"O Governo Regional encontra-se a trabalhar na conceção do projeto museológico para o Corvo, que será executado ainda nesta legislatura, segundo Paulo Estêvão, do PPM. Tem sido um dos defensores da instalação de um museu na ilha do Corvo. Já é possível saber com algum rigor o que se vai poder ver nesse museu?
A Resolução do PPM, que foi aprovada por unanimidade no Parlamento dos Açores, recomendava o seguinte: "que o Governo Regional mande realizar um estudo que conceba um projeto museológico adequado às características históricas, culturais e patrimoniais da ilha do Corvo e que concretize o projeto museológico, que resultar do estudo referenciado, no âmbito da atual legislatura". Neste momento aguardo a concretização do estudo, sendo certo que o edifício do século XVII que doei à Região para integrar o futuro Museu do Corvo já está na posse do Governo Regional há cerca de um ano.
Julgo que no futuro museu se poderão observar muitos objetos de carácter etnográfico. O Governo Regional já procedeu, também por proposta do PPM, ao levantamento dos "objetos de valor cultural e patrimonial que possam testemunhar o percurso histórico e a identidade etnográfica e as práticas culturais específicas da população corvina.
A listagem é a seguinte: 4 teares, fechaduras de madeira, fechaduras de madeira com osso de baleia, mechim, recipientes para a conserva de alimento (barsa), os antigos depósitos de combustível, carros de bois, sebe e alfaias, tesouras utilizadas na tosquia das ovelhas, máquinas de costura, ferramentas de carpintaria, vestuário em lã (incluindo os tradicionais barretos) e os instrumentos musicais e condecorações pertencentes ao Ti Pedro Cepo
A esta lista gostaria de acrescentar muitos outros objetos corvinos de valor cultural e patrimonial que já não se encontram na ilha. Entre eles destaco as moedas fenícias que foram encontradas na ilha do Corvo, no século XVIII.
A Resolução do PPM, que foi aprovada por unanimidade no Parlamento dos Açores, recomendava o seguinte: "que o Governo Regional mande realizar um estudo que conceba um projeto museológico adequado às características históricas, culturais e patrimoniais da ilha do Corvo e que concretize o projeto museológico, que resultar do estudo referenciado, no âmbito da atual legislatura". Neste momento aguardo a concretização do estudo, sendo certo que o edifício do século XVII que doei à Região para integrar o futuro Museu do Corvo já está na posse do Governo Regional há cerca de um ano.
Julgo que no futuro museu se poderão observar muitos objetos de carácter etnográfico. O Governo Regional já procedeu, também por proposta do PPM, ao levantamento dos "objetos de valor cultural e patrimonial que possam testemunhar o percurso histórico e a identidade etnográfica e as práticas culturais específicas da população corvina.
A listagem é a seguinte: 4 teares, fechaduras de madeira, fechaduras de madeira com osso de baleia, mechim, recipientes para a conserva de alimento (barsa), os antigos depósitos de combustível, carros de bois, sebe e alfaias, tesouras utilizadas na tosquia das ovelhas, máquinas de costura, ferramentas de carpintaria, vestuário em lã (incluindo os tradicionais barretos) e os instrumentos musicais e condecorações pertencentes ao Ti Pedro Cepo
A esta lista gostaria de acrescentar muitos outros objetos corvinos de valor cultural e patrimonial que já não se encontram na ilha. Entre eles destaco as moedas fenícias que foram encontradas na ilha do Corvo, no século XVIII.
O Governo Regional está a cumprir o que consta na resolução que o PPM apresentou na Assembleia Legislativa sobre o museu do Corvo e que foi aprovada por unanimidade?
Sim! O Governo Regional está a cumprir a palavra dada. Sei que está a trabalhar na conceção do projeto museológico para a ilha do Corvo e que o mesmo será executado ainda nesta legislatura.
Sim! O Governo Regional está a cumprir a palavra dada. Sei que está a trabalhar na conceção do projeto museológico para a ilha do Corvo e que o mesmo será executado ainda nesta legislatura.
Há quem defenda que Vila do Corvo é um museu vivo tendo em conta as características da sua pequena comunidade. De que forma é que se podem integrar o quotidiano atual dos corvinos com a interpretação do passado?
Concordo com essa visão. No Corvo as casas encontram-se, literalmente, em cima umas das outras. Aos forasteiros incomoda a falta de nitidez das fronteiras. É um mundo comunitário, mas não é só isso. A base de tudo é a confiança, que no Corvo é tão natural como a respiração. Por isso não se fecham as portas à chave.
O caso das fechaduras do Corvo evidencia bem o carácter comunitário da sociedade corvina. As fechaduras do Corvo são um desses elos matriciais dos tempos. No entanto, a sua extrema vulnerabilidade - devido à fraca resistência do material em que é construída - evidencia, de forma indireta, a natureza peculiar da vida comunitária no Corvo. Na verdade, só uma sociedade isolada e com uma forte coesão social concebe e utiliza um instrumento de proteção dos bens privados cuja eficácia se baseia mais na confiança do que no possível carácter dissuasor do mecanismo.É por isso que ela é emblemática da ilha do Corvo. A sua sobrevivência é um marco psicológico, um derradeiro triunfo do mundo comunitário sobre o individualismo exacerbado dos nossos dias.
Concordo com essa visão. No Corvo as casas encontram-se, literalmente, em cima umas das outras. Aos forasteiros incomoda a falta de nitidez das fronteiras. É um mundo comunitário, mas não é só isso. A base de tudo é a confiança, que no Corvo é tão natural como a respiração. Por isso não se fecham as portas à chave.
O caso das fechaduras do Corvo evidencia bem o carácter comunitário da sociedade corvina. As fechaduras do Corvo são um desses elos matriciais dos tempos. No entanto, a sua extrema vulnerabilidade - devido à fraca resistência do material em que é construída - evidencia, de forma indireta, a natureza peculiar da vida comunitária no Corvo. Na verdade, só uma sociedade isolada e com uma forte coesão social concebe e utiliza um instrumento de proteção dos bens privados cuja eficácia se baseia mais na confiança do que no possível carácter dissuasor do mecanismo.É por isso que ela é emblemática da ilha do Corvo. A sua sobrevivência é um marco psicológico, um derradeiro triunfo do mundo comunitário sobre o individualismo exacerbado dos nossos dias.
Foram encontradas estruturas no Corvo que se assemelham a construções megalíticas. Considera que a comissão de peritos, criada recentemente pelo Governo Regional para estudar essas e outras estruturas localizadas na Terceira, tem condições para dissipar as dúvidas em relação a esses achados?
Não. Esse, aliás, não é o propósito da comissão. O Diretor Regional da Cultura, Nuno Ribeiro Lopes, referiu, a este respeito, o seguinte: "o que gostaríamos é que saísse daqui uma recomendação sobre aquilo que devemos fazer. Não vamos provar se é verdade ou não é, se é datado desta ou daquela época".
Não. Esse, aliás, não é o propósito da comissão. O Diretor Regional da Cultura, Nuno Ribeiro Lopes, referiu, a este respeito, o seguinte: "o que gostaríamos é que saísse daqui uma recomendação sobre aquilo que devemos fazer. Não vamos provar se é verdade ou não é, se é datado desta ou daquela época".
No século XVIII foram encontradas no Corvo moedas alegadamente fenícias ou cartaginesas. Tendo em conta que a ilha vai dispor em breve de um museu não seria a altura de as recuperar?
Sim. Estou a investigar este assunto - conto, inclusivamente, deslocar-me, nos próximos meses, à Suécia - no sentido do futuro Museu do Corvo poder vir a integrar no seu espólio estas moedas. Vale a pena dar a conhecer a descrição deste achado, que me foi remetida pelo Dr. Nuno Ribeiro, que Humboldt realizou no seu "Examen Critique".
"Refere o mesmo que no mês de Novembro de 1749, uma tempestade violenta teria abalado as fundações de um edifício parcialmente submerso na ilha do Corvo, quando o mar amainou descobriu-se, por entre as ruínas, um vaso contendo moedas de ouro e cobre. Estas moedas foram levadas para um convento, umas ter-se-iam perdido, mas nove foram preservadas e enviadas ao padre Enrique Flores, em Madrid, que as deu a John Podolyn, umas apresentavam a figura de um cavalo por inteiro, outras apresentavam somente a cabeça desse animal".
A mesma informação refere que "pelos elementos conhecidos podemos afirmar, com certo grau de certeza, que se tratam de duas moedas fenícias do norte de África, da colónia de Cirene, e de sete moedas cartaginesas. Alguns, como Conrad Malte-Brun, sugeriram que estas moedas podiam ter sido deixadas nos Açores por navegadores nórdicos ou árabes. Mas, como Humboldt nota com toda a pertinência, isso não confere com o facto de se tratarem exclusivamente de moedas fenícias e cartaginesas, muito mais antigas, nem tão pouco com o facto de, neste lote não constarem nenhumas moedas muçulmanas ou nórdicas, como seria lógico a acreditar nesta teoria.
Por outro lado, conhecem-se as expedições regulares que a Fenícia enviava para a costa Atlântica, no comércio do Estanho e do Âmbar, é pois, perfeitamente possível, que uma tempestade tivesse empurrado um desses navios até ao Corvo. Finalmente, embora não seja impossível que moedas cartaginesas de ouro fossem ainda usadas pelos árabes, pelo seu próprio valor intrínseco, bastante mais improvável parece o uso de moedas de cobre, cujo uso só faria sentido para o próprio povo que as havia cunhado. É certo que neste grupo estavam incluídas duas moedas cartaginesas de ouro, mas em minoria clara em relação ao número de moedas de bronze"."
In jornal Diário Insular
Sim. Estou a investigar este assunto - conto, inclusivamente, deslocar-me, nos próximos meses, à Suécia - no sentido do futuro Museu do Corvo poder vir a integrar no seu espólio estas moedas. Vale a pena dar a conhecer a descrição deste achado, que me foi remetida pelo Dr. Nuno Ribeiro, que Humboldt realizou no seu "Examen Critique".
"Refere o mesmo que no mês de Novembro de 1749, uma tempestade violenta teria abalado as fundações de um edifício parcialmente submerso na ilha do Corvo, quando o mar amainou descobriu-se, por entre as ruínas, um vaso contendo moedas de ouro e cobre. Estas moedas foram levadas para um convento, umas ter-se-iam perdido, mas nove foram preservadas e enviadas ao padre Enrique Flores, em Madrid, que as deu a John Podolyn, umas apresentavam a figura de um cavalo por inteiro, outras apresentavam somente a cabeça desse animal".
A mesma informação refere que "pelos elementos conhecidos podemos afirmar, com certo grau de certeza, que se tratam de duas moedas fenícias do norte de África, da colónia de Cirene, e de sete moedas cartaginesas. Alguns, como Conrad Malte-Brun, sugeriram que estas moedas podiam ter sido deixadas nos Açores por navegadores nórdicos ou árabes. Mas, como Humboldt nota com toda a pertinência, isso não confere com o facto de se tratarem exclusivamente de moedas fenícias e cartaginesas, muito mais antigas, nem tão pouco com o facto de, neste lote não constarem nenhumas moedas muçulmanas ou nórdicas, como seria lógico a acreditar nesta teoria.
Por outro lado, conhecem-se as expedições regulares que a Fenícia enviava para a costa Atlântica, no comércio do Estanho e do Âmbar, é pois, perfeitamente possível, que uma tempestade tivesse empurrado um desses navios até ao Corvo. Finalmente, embora não seja impossível que moedas cartaginesas de ouro fossem ainda usadas pelos árabes, pelo seu próprio valor intrínseco, bastante mais improvável parece o uso de moedas de cobre, cujo uso só faria sentido para o próprio povo que as havia cunhado. É certo que neste grupo estavam incluídas duas moedas cartaginesas de ouro, mas em minoria clara em relação ao número de moedas de bronze"."
In jornal Diário Insular