segunda-feira, 12 de março de 2012

Reuniões entre Governo Regional e partidos sobre redução da presença militar dos Estados Unidos



O secretário regional da Presidência, André Bradford, adiantou ontem, antes de arrancar com um dia de reuniões com os partidos com assento na Assembleia Legislativa dos Açores (ALRA), ter como meta no processo relativo à redução da presença militar norte-americana na Base das Lajes o "menor impacto possível na economia e na realidade social".
"O objetivo principal é que aquilo que se anuncia tenha o menor impacto possível na economia e na realidade social onde a base está inserida, em particular na ilha Terceira", afirmou.
A ronda de reuniões prolonga-se pelo dia de hoje e inclui também autarquias, sindicatos e associações empresariais.
Já Zuraida Soares, líder do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda, avançou ter-lhe sido adiantado que em cima da mesa pode estar um despedimento substancial de trabalhadores portugueses, no que talvez se possa transformar no segundo maior despedimento coletivo da história açoriana.
Zuraida Soares classificou este eventual despedimento como "infame" e defendeu que, a suceder, terá de ser acompanhado por medidas excecionais de apoio aos trabalhadores pelo Governo dos EUA e pelo Governo da República, dado ir-se processar uma situação de emergência social.
Além disso, sustentou que, neste cenário, terão de ser exigidas aos norte-americanos indemnizações para os trabalhadores e para a própria Região, até à luz dos custos ambientais que a utilização da Base das Lajes implicou.
Em caso de confirmação dos despedimentos, com o Governo dos EUA a manter a Base "adormecida", Zuraida Soares considera que deve ser estabelecida uma moratória entre a República e os EUA para a desativação das funções militares da Base e dado início a estudos no campo nacional e regional, que permitam potenciar as infraestruturas e a posição geoestratégica das Lajes, mantendo e criando empregos e desenvolvimento económico. Deu o exemplo do apoio que pode ser dado à aviação comercial.
O líder da representação parlamentar do PCP no Parlamento Açoriano, Aníbal Pires, adiantou ter comunicado a Bradford que a Região deve ser "firme" na defesa dos postos de trabalho portugueses ao serviço das forças norte-americanas estacionadas na Base das Lajes. "A única real contrapartida da Região é a existência desta força laboral e da respetiva massa salarial", sustentou. Aníbal Pires frisou ainda que o PCP leva ao próximo plenário um projeto de resolução para que a ALRA se pronuncie sobre a matéria.
Paulo Estevão, líder da representação parlamentar do PPM, adiantou a DI ter-lhe sido comunicado que os Estados Unidos da América preparam uma redução "bastante significativa" do contigente militar nas Lajes, mas alertou para o que considerou ser um "bluff".
"A questão da redução das despesas militares pelos EUA prende-se com motivos de política interna, financeiros e eleitorais, mas o que não aceitamos é que os norte-americanos tentem desvalorizar o valor geoestratégico das Lajes na sua projeção de força. O Médio Oriente está instável, bem como os países do norte de África. Temos a questão da Síria, o problema nuclear no Irão. Neste cenário, as Lajes são essenciais", frisou o deputado.
Na opinião de Paulo Estevão, os Estados Unidos estão a tentar fazer "bluff" para "diminuir o preço".
Quanto à questão da consequente redução da força laboral portuguesa que uma quebra na presença militar dos EUA trará, Paulo Estevão defende que o atual número de trabalhadores portugueses nas Lajes é "inegociável".
"É a única real contrapartida que a Região tem da presença dos EUA nas Lajes. A partir do momento em que haja uma redução, em que os norte-americanos queiram estar nas Lajes de graça, deixaremos de apoiar essa presença", sustentou.
Recorde-se que o Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços dos Açores (SABCES) já defendeu que a Base das Lajes mantenha o mesmo número de trabalhadores portugueses, no caso de uma eventual renegociação do Acordo Laboral.
DI noticiará as posições do PSD e PS na edição de amanhã.

Diário Insular