segunda-feira, 28 de julho de 2008

Jogos Florentinos

A política regional é um tédio. Vejam-se as notícias veiculadas, nos últimos dias, pela imprensa. No início da semana passada os jornais titulavam, em grandes parangonas, uma notícia datada do ano 2000: “Carlos César jura que este será o seu último mandato”.

Sinceramente, não vejo onde possa estar a notícia associada a mais esta proclamação. Depois de mentir duas vezes sobre este assunto, o que o César diz, ou deixa de dizer, sobre este tema é irrelevante e não possui qualquer espécie de credibilidade.

A seguir veio o Costa Neves com a historieta do Estatuto. Segundo ele, os malvados dos socialistas forçaram o Presidente da República a opor-se ao Estatuto para “ganharem uma guerra com Belém”.

Ora o "argumento" desta fantochada é um insulto à nossa inteligência. Em primeiro lugar, este é o Estatuto dos socialistas. Pelo menos é assim que grande parte da opinião pública o vê, na medida em que os socialistas souberam meter, neste assunto, os social-democratas no fundo do bolso roto.

O Carlos César ainda teve tempo para ensaiar o número de pai da pátria com as tais exigências estatutárias que associou à recandidatura. Enfim, outra palhaçada.

Apesar de tudo, o comum dos mortais, categoria de que não parece fazer parte o inefável Costa Neves, compreenderá que interessava politicamente ao Carlos César aparecer, qual novo Neville Chamberlain, com o Estatuto na mão.

Em segundo lugar, o Costa Neves quer convencer-nos que em Belém habita um homem que precisa de ser provocado e irritado para vetar qualquer proposta de maior autonomia para as regiões autónomas. Neste assunto, tenho poucas dúvidas disso, o velho Aníbal já nasceu irritado.

Para meter a cerejinha no bolo desta história quem resolveu aparecer? O André Bradford, pois claro! O guião já era de quinta categoria, mas alguém decidiu que ainda não era suficientemente mau.

O nosso homem não se fez de rogado e entrou a matar com uma colecção de insultos à líder do PSD que fariam corar o mesmíssimo Hugo Chávez. Mais valia à pobre da Ferreira Leite ter ido à festa pimba e etílica do PSD-M no Chão da Lagoa e ouvir a habitual boçalidade do Jardim e do Jaime Ramos.

Não sei o que lhe deu. Ultimamente tudo o que veste sotaina ou saia leva com um discurso mais destemperado do André Bradford. Em Abril atirou-se ao Papa e agora fez o mesmo à Ferreira Leite.

Na política açoriana isto não são modos de gente. Nessa medida, aproveito para deixar o meu mais veemente protesto, e pedido de desculpas, em relação ao vocabulário e ao tom utilizado por esse exaltado.

sábado, 26 de julho de 2008

Execrável

Sou, desde o primeiro momento, um crítico da actuação do governo socialista. Considero que este usufruiu, durante muito tempo, de uma conjuntura económica muito favorável e que não obteve os resultados que seriam expectáveis face às circunstâncias.

Critico o regime de partido único, a confusão entre o partido e a administração regional e o ataque às liberdades individuais. Estou até a sofrer, actualmente, uma tentativa de saneamento político em que estou convencido que estão envolvidas personalidades influentes do actual regime.

Tudo isto, no entanto, não me impede de considerar miserável o ataque que o filho do Carlos César está a sofrer só porque existe a possibilidade de o mesmo vir a ser indicado como candidato a deputado regional.
Não gostaria que os meus filhos viessem a ser atacados pelo posicionamento ou acção política do pai. Sou o único responsável pelos meus actos e os meus filhos serão responsáveis pelos seus.

Penso o mesmo dos filhos dos outros e considero um acto verdadeiramente canalha este tipo de ataques às famílias dos agentes políticos. Defendo a liberdade da crítica em relação à actuação política dos indivíduos, mas considero um acto execrável o facto de alguém ser enxovalhado na praça pública devido à sua filiação. Quem o faz não passa de um reles cobarde.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Pior É Possível


Confesso, para não ser hipócrita, que já esperava as críticas do PSD à candidatura do Gonçalo da Câmara Pereira ao círculo eleitoral da ilha de São Miguel. Esperava um exercício de xenofobia e o habitual circo antimonárquico. Nenhuma surpresa por aí.

Quanto ao mensageiro do insulto e da desclassificação de matriz jingoísta, também confesso que aguardava que fosse protagonizada por alguém que fizesse do fanatismo partidário uma escada de ascensão partidária.

Alguém que se possa definir como hagiógrafo acrítico e cujo estilo de actuação partidária é uma mistura de militante estalinista e de agitador peronista. Em síntese, alguém ainda pior que o já célebre arquétipo do socialismo cristão-novo: o Dr. André Bradford. Sim, porque pior é sempre possível.

Vai daí aparece-me o também já célebre Eng.º Paulo Ribeiro. Tenho de lhe agradecer o facto de, ocupado como está na produção do material associado à canonização do Dr. Costa Neves, ainda ter tido tempo para produzir um panfleto antimonárquico que certamente figurará nos anais (literalmente) da blogosfera portuguesa como um dos mais inspirados libelos desta natureza.

Vergado, como me sinto, à qualidade dos argumentos deste empedernido hagiógrafo laranja só me resta fazer uma pergunta inocente. Sendo a candidatura de um alentejano nos Açores um acto de colonialismo, como se deverá chamar a candidatura de um açoriano no Alentejo (Portalegre)?

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O Cavaleiro da Ilha do Corvo

O Açoriano Oriental publica hoje uma interessantíssima entrevista com o historiador Joaquim Fernandes, autor do livro de ficção “O Cavaleiro da Ilha do Corvo”. Pelo seu extraordinário interesse para a Ilha do Corvo, abro uma excepção neste blogue e transcrevo, quase na íntegra, a referida entrevista.

Foi o relato de Damião de Góis, cronista do Rei D. Manuel I, sobre uma estátua de um cavaleiro encontrada pelos portugueses quando desembarcaram, pela primeira vez, na ilha do Corvo que desafiou a sua curiosidade como historiador e a imaginação de escritor.

“O Cavaleiro da Ilha do Corvo”, editado pela “Círculo de Leitores”, é a primeira obra de ficção de Joaquim Fernandes. O historiador tem publicadas várias obras de investigação histórica, mas desta feita decidiu aventurar-se pelo romance, partindo de factos históricos que durante muitos anos o intrigaram e o incentivaram a aprofundar a investigação.

Em entrevista, explica o outro lado do livro de ficção – que dados encontrou ao longo da investigação histórica e a que conclusões chegou.A primeira consequência da sua investigação é a tese de que navegadores de outras nacionalidades aportaram nas ilhas dos Açores, antes dos portugueses, e de que a existência do arquipélago seria do conhecimento de outros povos.

A intriga ficcional que cumpre o propósito de divulgar informação histórica, serve-se da personagem de um historiador americano descendente de açorianos que decide seguir o rasto da Estátua da Ilha do Corvo e que acaba por se confrontar com uma conspiração destinada a manter a todo o custo o prestígio de Cristóvão Colombo.

De onde surgiu este enredo fictício?

Começou pela leitura da crónica “O Príncipe D. João”, da autoria de Damião de Góis, um dos nossos mais credíveis e fiáveis cronistas – cronista de D. Manuel e de D. João II.

Foi um documento que li há uma década atrás. O insólito da descrição de uma estátua de pedra que os portugueses terão encontrado quando desembarcaram pela primeira vez na ilha do Corvo despertou-me o interesse.

Os historiadores podem ser muito curiosos... E a verdade é que começou a funcionar como um bichinho de curiosidade e como sou um pouco rato de biblioteca comecei a tentar puxar todos os fios que pudessem ter a ver com esta descrição, para perceber se tudo não passava de uma invenção, de uma tradição lendária, ou de um rumor propagado ao longo dos tempos sem qualquer consistência.

Reuni centenas de fontes - no fim do livro publico um elenco detalhado com cerca de dez páginas para informar as pessoas. E inventei uma intriga, um “trailer” histórico com alguma tensão e com personagens fictícias.No fundo, no fundo, o romance acaba por ser uma maneira de expor informação histórica que está diluída ao longo de 350 páginas.

E através das fontes que reuniu, a que conclusões chegou?

Temos de aceitar que Damião de Góis era um homem sério que não embarcava em ficções, nem dizia as coisas por dizer nas suas crónicas, porque obviamente corria riscos. É um homem que fez figura no mundo do Renascimento. Foi um grande cronista e é o primeiro grande humanista europeu português (convive com Erasmus) e nas suas crónicas debita informações inéditas e originais, como o aparecimento em Lisboa do primeiro rinoceronte.

É um testemunho considerado válido. Testemunhou a chegada dos restos da estátua com o cavaleiro, apontando para ocidente com o braço esticado - os restos da estátua que D. Manuel mandou que fossem trazidos para Lisboa e que infelizmente partiram-se pelo caminho - a desculpa do mestre pedreiro que foi mandado à ilha foi que partiram-se numa tempestade durante a viagem.

Ora, a maneira como faz a descrição vai ao encontro de outras fontes que tive oportunidade de cruzar – fontes clássicas... Damião de Góis falava na possibilidade de serem vikings, povos do norte que terão aportado às ilhas ocidentais dos Açores.

E há historiadores árabes que falam na existência de estátuas que serviam de marcação dos limites do oceano navegável. Além disso, temos um mapa fundamental que é um testemunho convincente da própria descrição da estátua do Corvo - o mapa dos irmãos Pizigani de 1367 (quase cem anos antes dos portugueses chegarem aos Açores) onde está escrita uma referência em latim, dizendo “estas são as estátuas dentro das Antílias”.

São elementos cruzados de diferentes séculos que de uma maneira convincente vêm provar que de facto Damião de Góis descreveu um acontecimento importante: a chegada a Lisboa dos restos de uma estátua que ninguém sabe quem construiu, mas que pode ter sido colocada no Corvo por ocasião de descobertas acidentais, feitas por outros povos, antes do ciclo de descobertas dos portugueses.

Na sua opinião é possível que não tenham sido os portugueses a descobrirem as ilhas dos Açores?

O que eu digo é que houve outros descobridores em tempos muito distantes que não fazem parte da nossa memória histórica. E isso não retira mérito à descoberta dos portugueses, porque não basta avistar uma ilha, chegar lá, pôr lá o pé, e depois vir embora. Descobrimento é também exploração, ocupação sistemática por populações – conhecimento detalhado.

O nosso ciclo de descobrimentos foi favorecido pelo aparecimento da imprensa, do livro e a possibilidade de ter um diário de bordo. Ou seja, beneficiou de uma maior capacidade de transmissão de memória, através da imprensa escrita. E isso não existia na altura dos fenícios e cartagineses.

Foi por essa razão que as primeiras descobertas portuguesas passaram à história como uma primeira globalização planetária. Mas a minha investigação está a apontar para outros ciclos históricos dos quais não temos consciência porque é uma imensidade de tempo tão grande que está completamente fora do nosso alcance perceber. De facto houve outras realizações, houve outras incursões nos mares.

É preciso ter em atenção que, no Corvo, no século XVIII, apareceram moedas fenícias, e em São Miguel, apareceu um amuleto do século VIII d.C..Há aqui sinais que levam a supor que outros povos com capacidade de navegação tiveram a felicidade de encontrar as ilhas. E penso que, para os açorianos, isso é motivo de orgulho, de enriquecimento do seu próprio historial, porque acabam por ter uma percepção de uma outra entidade cultural muito mais profunda – de serem parte constituinte de outro tipo de aventuras que levaram à abertura do mundo.

E há vestígios ainda desta estátua?

Infelizmente, não. Deve ter ocorrido qualquer coisa - e é essa a intriga do meu romance. Mas tive de inventar muito pouco, porque os factos em si já são tão fantásticos que acabei por não ter necessidade de imaginar muita coisa.

Os aspectos mais fantásticos e inimagináveis estão nas narrativas, estão nos documentos, nas cartografias, nas moedas, e num conjunto de pistas que eu disponho com a minúcia possível - não de uma maneira exaustiva, porque um romance não é uma tese histórica.

Infelizmente, não há vestígios dos restos da estátua que correspondiam a uma perna do cavalo e aos restos do braço estendido do cavaleiro que apontaria no sentido da América, talvez para dizer que seria perigoso avançar para além daquele ponto, pelo menos é esse o entendimento do significado que as estátuas – marco teriam no Oceano Atlântico (a opinião veiculada pelos próprios historiadores árabes no século X era de que essas estátuas serviam de marco de delimitação da possibilidade de navegação, o que é extraordinário).

Segundo o testemunho de Damião de Góis, os restos estiveram alguns dias nos armazéns reais e depois disso ninguém sabe o que se passou.Esse enigma, esse desaparecimento misterioso, é que dá origem à construção ficcional do romance.

E o romance é, no fundo, a tentativa de perseguição da localização das provas da existência da estátua e do que está implícito na ideia da existência da estátua que não se fica apenas pela estátua em si, mas que deverá ter atenção a todas as implicações históricas para a cronologia clássica das navegações no Atlântico.

E há lendas sobre a estátua?

Tive ocasião de explorar todas as fontes lendárias associadas aos Açores e a lenda do Corvo faz parte de uma certa consciência local de tradição popular, junto com outras como a lenda das Sete Cidades, tantas lendas popularizadas e muito interessantes que nos remetem também para o mundo da fábula, das ilhas imaginárias do Atlântico, ligadas ao possível refúgio de D. Sebastião depois da derrota em Alcácer – Quibir ou mesmo com as lendas a do rei Artur.

É um misto de ficção, de lenda, mas também de história. A estátua do Corvo, partindo do depoimento de Damião de Góis, amparado por outras fontes cruzadas e separadas no tempo, acaba por ser um facto plausível e histórico, para além de lendário.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Entrevista


A RTP/Açores fechou ontem, com a entrevista de Carlos César, o ciclo de entrevistas aos líderes dos partidos com representação parlamentar. Quero fazer uma nota de prévia que tem a ver com o desempenho dos jornalistas Rui Goulart e Berta Tavares.

Fizeram um trabalho notável nesta entrevista. Colocaram a maior parte das questões pertinentes e salientaram as incongruências do discurso do Presidente do Governo Regional. Não foram menos incisivos do que na entrevista com o Costa Neves, com a diferença fundamental de que o Carlos César esteve, do ponto de vista formal, a um nível muito superior ao do Costa Neves.

Ao contrário de Costa Neves, o líder do PS é um político confiante, tranquilo e de grande capacidade argumentativa. Esteve, do ponto de vista formal, quase perfeito. Controlou os tempos de resposta, omitiu as questões mais incómodas, soube salientar os pontos fortes do seu discurso e ainda teve tempo para usar o sentido de humor e sorrir para as câmaras.

No conjunto, concretizou um desempenho, do ponto de vista formal, ao alcance de muito poucos políticos açorianos.

Já no que diz respeito ao conteúdo das suas propostas políticas, penso que ficaram evidentes as fragilidades actuais do seu projecto político. Vou salientar, sem ser exaustivo, alguns aspectos que me pareceram mais vulneráveis:

A questão estatutária. Nesta área, o Presidente do Governo Regional já vinha fragilizado do debate na Assembleia da República (pertenceram ao PS a maior parte das propostas de alteração estatutárias apresentadas no Parlamento nacional).

A recente intervenção do Presidente da República irá enfraquecer, ainda mais, o conteúdo nuclear da proposta estatutária original. Ora o Carlos César não terá segunda oportunidade nesta matéria, uma vez que abandona o poder em 2012.

A próxima legislatura será um momento de transição para um novo ciclo político. Não existirão condições para voltar a gerar um consenso político tão alargado e a última coisa que o PSD de Berta Cabral irá fazer é proporcionar uma folga “externa” no debate político regional a um líder político de saída (teremos tudo menos incenso na hora de saída de Carlos César). Daí o ar compungido e conformado do Presidente do Governo Regional. O Cavaco Silva foi, neste assunto, o irlandês de serviço.

A questão económica. Neste assunto, o número habitual de Carlos César é mergulhar no Mesozóico e demonstrar as incríveis melhorias verificadas nos últimos doze anos. É claro que os resultados impressionam os menos atentos.

Na verdade, qualquer história da evolução económica de territórios ou países que partem de valores muito baixos está repleta de milagres de crescimento exponencial (veja-se, por exemplo, o caso de Cabo Verde).

O verdadeiro desafio é crescer a partir de valores próximos da média do contexto de referência (que neste caso é a média nacional). Ora o que os diferentes dados estatísticos demonstram é que a evolução económica dos Açores está a estagnar e até a recuar em alguns parâmetros (facto que foi exemplificado pelos entrevistadores).

Mais preocupante ainda, foi constatar que o Carlos César não tem alternativas sólidas em áreas em que ele mesmo reconheceu insucessos vários. Foram os casos do transporte marítimo e aéreo de passageiros e do turismo. Aqui, o Presidente do Governo Regional limitou-se a acanhar o projecto do PSD. De uma forma confrangedora, colocou-se à sombra do novo tríptico da moda: aumento das taxas de juro, crise energética e aumento do preço dos produtos alimentares.

Finalmente, falou-se do deficit democrático do regime açoriano. É claro que o Carlos César recusou a existência dessa situação. Também o Salazar chegou a afirmar que realizava “eleições tão livres como na livre Inglaterra”. Por experiência própria conheço o carácter não democrático do regime socialista açoriano.

A administração regional está totalmente infiltrada por interesses partidários do PS/Açores, a comunicação social está, com raras excepções, amordaçada e votada à pedinchice e os diferentes sectores da actividade económica submetidos à lei do subsídio da proximidade e da confiança.

Já agora, gostava de perguntar como é que o presidente e o vereador socialistas da Câmara do Corvo já sabem, “de ciência certa”, que não ficarei, no próximo ano lectivo, colocado na escola do Corvo (tenho testemunhas destas confidências)? Já sabem onde será o meu Gulag particular? Democracia? Liberdade? Pluralismo? Só peço a Deus a oportunidade de o apanhar num debate a dizer estas fanfarronadas! Ainda somos muitos os que não temos medo.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Ganhou o Rui Goulart


Vi a entrevista do Costa Neves na RTP/Açores. Não simpatizo, em absoluto, com o personagem, que considero um eterno encalhado da política. Do seu trabalho político ou profissional não recordo um único momento de brilho.

Como Ministro da Agricultura só me recordo dele em dois momentos “quase” estelares: o primeiro foi a notoriedade que alcançou como testemunha de um pequeno acidente aéreo. Durante dois dias, o então Ministro da Agricultura exibiu a sua vasta experiência de voo e logrou aparecer em vários noticiários (foi o zénite do seu consulado). O segundo momento foi uma espécie de "trailer" do filme "Call Girl", só que aqui o ex-ministro era mesmo inocente (coisa de que não duvido).

Voltando à entrevista, considero que esta foi, jornalística e politicamente, um desastre. Alguém – que não eu que cortei relações com um serviço público de televisão que é o gémeo siamês do seu homólogo da Coreia do Norte – tem de explicar ao jornalista Rui Goulart a diferença entre uma entrevista e um debate.

Como adversário de Costa Neves neste debate, o Rui esteve ao seu melhor nível. Deixou o seu adversário sem oxigénio, levando-o a uma postura belicista que se caracterizou pela constante exibição do dedo indicador, sempre bem “espetadinho”, na direcção do seu oponente e dos espectadores. Para além disso, ainda foi possível observar, ao de leve, uma teimosa espumazinha branca junto ao lábio do líder laranja.

Para além de ter perdido a compostura, o Costa Neves também foi derrotado, no conteúdo político e na exibição estatística, pelo Rui. No fundo, o Costa Neves não conseguiu explicar como compatibilizará o aumento da despesa pública que as suas propostas comportam, com a diminuição das receitas fiscais que as suas propostas também prevêem.

Em contrapartida, o Rui Goulart esteve muito bem na defesa da justiça social e na explicação detalhada dos gráficos do Serginho, o mago insular das finanças.

Mesmo no final, o Rui, para não deixar qualquer dúvida em relação ao resultado do debate, fez uma desapiedada alusão à “Grande Berta”. Completamente obliterado, o pobre do Costa Neves balbuciou qualquer coisa que não logro recordar. Tudo terminou aí. Bom trabalho Rui! Parabéns!

O PS/Açores Recua na Questão do Parque Natural da Ilha do Corvo

A Proposta de Decreto Legislativo Regional n.º 29/2008 – Parque Natural Regional da Ilha do Corvo – foi ontem, 2 de Junho, aprovada, na Assembleia Legislativa Regional dos Açores, com algumas das alterações sugeridas pelo PPM/Açores em sede do Conselho de Ilha do Corvo e, posteriormente, na conferência de imprensa que concedemos, no dia 30 de Junho de 2008, sobre este assunto.

Exigimos que fosse retirada a possibilidade legal do Director de Serviços de Ambiente das Flores e do Corvo (departamento que está sedeado na ilha das Flores) poder vir a exercer, em regime de acumulação, o cargo de Director do Parque Natural da Ilha do Corvo.

Recusámos, em absoluto, a possibilidade de gestão, à distância, de um Parque que inclui 50% da superfície da Ilha do Corvo (esse facto teria consequências bastante negativas no âmbito da autonomia funcional do Parque e dos meios financeiros e humanos que, esperamos, lhe venham a ser afectados, em prol da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentado desta ilha).

O Governo deixou cair essa possibilidade, retirando e modificando o articulado relacionado com essa matéria.

Modificações aprovadas na Assembleia Regional, no âmbito do artigo 11.º da Proposta (conselho de gestão):

Ponto 11 – Sem prejuízo do disposto nos n.ºs 3 e 8, o cargo de director do Parque Natural é equiparado, para todos os efeitos legais, ao cargo de direcção de 2.º grau previsto o artigo 6.º do Decreto Legislativo Regional n.º 2/2005/A, de 9 de Maio (modificado).

Ponto 12 – O cargo de Director do Parque Natural pode ser exercido em regime de acumulação com o cargo de Director de Serviços de Ambiente das Flores e Corvo, referido no n.º 1 do artigo 68.º do Decreto Regulamentar Regional n.º 13/2007/A, de 16 de Maio, sendo que, neste caso, lhe é aplicado o estatuto remuneratório atribuído aos cargos de direcção intermédia de 2.º grau – Chefe de Divisão (eliminado).

Ponto 13 – É aplicável o exercício de Director do Parque Natural o regime estabelecido no n.º 2 do artigo 68.º do Decreto Regulamentar Regional n.º 13/2007/A, de 16 de Maio, independentemente de se verificar ou não a acumulação referida no número anterior (eliminado).

Ponto 14 – As instalações necessárias ao funcionamento do conselho de gestão, bem como o apoio logístico e administrativo são assegurados pelos serviços do departamento do Governo Regional com competência em matéria de ambiente (modificado).

Ponto 15 – O exercício do cargo de Director do Parque Natural em regime de acumulação com o cargo de Director de Serviços de Ambiente das Flores e do Corvo, não prejudica a prossecução das competências definidas no artigo 69.º do Decreto Regulamentar Regional n.º 13/2007/A, de 16 de Maio (eliminado).


Modificações aprovadas na Assembleia Regional, no âmbito do artigo 13.º da Proposta (conselho consultivo):

Alínea h) do ponto 1 – Um representante do conselho directivo do baldio do Corvo.

Alínea j) do ponto 1 – Um representante das associações de pescadores da ilha do Corvo, consideradas em conjunto e em sistema rotativo com mandato de um ano.

O conjunto das alterações agora efectuadas pelo PS e pelo Governo foram, sem excepção, propostas pelo PPM/Açores. Representam um claro recuo na intenção de gerir, à distância, o Parque Natural do Corvo. Não é tudo – falta a garantia dos meios para o Parque – mas significa uma vitória muito importante para a ilha do Corvo, nomeadamente através da preservação da gestão local numa extensa área do seu território.

O PPM/Açores congratula-se pelo facto da nossa intervenção ter provocado o recuo do PS/Açores nesta matéria. Lamenta-se, profundamente, no âmbito deste processo, o triste papel desempenhado pelo PS/Corvo.

Para além da apatia da Câmara Municipal, do deputado local do PS e do Secretariado da Ilha do Corvo do PS (cujo seguidismo cego chegou ao extremo de votarem favoravelmente o texto inicial da iniciativa legislativa governamental no Conselho de Ilha do Corvo), regista-se a profunda negligência do Sr. Presidente do Conselho de ilha do Corvo que remeteu o Parecer, referente a este assunto, três dias depois de finalizado o prazo de entrega, pondo assim em risco os interesses desta comunidade.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O Império Persa

A intervenção americana no Iraque foi um ilimitado fracasso. Para além de ter iniciado a espiral inflacionista nos mercados internacionais e de ter enlouquecido de júbilo os especuladores, escancarou, estrategicamente, as portas da expansão estratégica do Irão no Mediterrâneo Oriental.

O Iraque era, desde meados do século passado, o maior obstáculo à secular ambição persa de acesso ao Mediterrâneo Oriental (algo que logrou alcançar, por diversas vezes, na Antiguidade). Foram necessários séculos de esforços titânicos por parte de sucessivas potências – Macedónia, Roma, Império Bizantino, Império Árabe, Império Otomano e Império Britânico – para lhes barrar esse caminho.

Com a destruição do potencial militar do Iraque e a sua desagregação política em pequenas “taifas”, nada de importante – não conto, evidentemente, com países como a Síria, a Jordânia ou o Líbano – se interpõem entre o Irão e o Mediterrâneo Oriental, a não ser Israel (vejo a Arábia Saudita como uma potência de flanco, preocupada apenas em “manter o statu quo” no Golfo Pérsico).

Não interpreto, por isso, o actual esforço do Irão em obter armamento nuclear como um acto de desespero messiânico, ditado pelo fanatismo religioso. O actual governo islâmico do Irão está a fazer o que todos os governos persas fizeram nos últimos 3 milénios. Procura emular o potencial militar – que inclui a capacidade nuclear – da única potência regional que se lhes pode opor: o Estado de Israel.

O que pode fazer, nas actuais circunstâncias, o Mundo Ocidental? Nada! Não pode nem irá fazer nada. A União Europeia, imersa numa interminável crise de identidade, é completamente irrelevante. A França e a Grã-Bretanha não têm, desde a crise do Canal do Suez de 1956, qualquer pretensão ou capacidade para agir autonomamente.

Restam os Estados Unidos que não estão em condições políticas, económicas e sociais para fazer seja o que for (possuem um défice astronómico e a opinião pública não quer nem ouvir falar numa nova intervenção militar quando sectores como a saúde, a educação, a assistência social, as infra-estruturas e os mercados imobiliário, financeiro e energético estão à beira do colapso).

O Irão terá, num futuro próximo, armamento nuclear. Só nos resta esperar que a capacidade recíproca de autodestruição, entre Israel e o Irão, seja suficientemente dissuasora. O único optimismo possível provém do facto de, nos precedentes conhecidos – União Soviética/Estados Unidos ou Índia/Paquistão – os demónios do holocausto não terem sido, apesar de tudo, libertados.