sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Oráculo


A primeira vez que ouvi falar no Dr. Bradford foi há precisamente um ano. Na altura, o Dr. Bradford solicitava a censura das minhas conferências de imprensa. Foi o início de uma duradoura amizade blogosférica que a partir de Novembro se transferiu para o Parlamento. Devido a uma qualquer ironia do destino estamos hoje, literalmente, frente-a-frente no hemiciclo.

Não tenho, obviamente, nada de pessoal contra o Dr. Bradford. Aliás, aprecio o seu sentido de humor. A questão reside exclusivamente na política. Estou sinceramente empenhado na luta política contra o cesarismo açoriano.

Entendo que o PS-A – um partido de matriz democrática – está hoje dominado por um condottiere que o transformou num instrumento de poder pessoal quase ilimitado na sociedade açoriana. Existem hoje pessoas que são perseguidas na sociedade açoriana devido às suas ideias políticas. Eu próprio sou uma delas.

O Dr. Bradford é conivente com este estado de coisas. Não podia, aliás, ser de outra forma. A progressão no aparelho partidário socialista depende das boas graças que se conseguem obter junto do líder socialista. Não existe espaço para tendências ou opiniões divergentes no seio PS-A.

Este partido não é, actualmente, mais que uma entidade monolítica, mantido num estado de pureza permanente graças a purgas sistemáticas de que só a santíssima trindade socialista está a salvo (César, Contente e Álamo).

Prometi um oráculo para o Dr. Bradford e vou cumprir. Não acredito em dogmas. Por isso vou desafiar a máxima do sumo-sacerdote dos vaticínios: “prognósticos só no fim do jogo”.

Entendo que o Dr. Bradford – tendo, obviamente, boas qualidades noutras áreas – não tem experiência parlamentar, instinto para “malhar” e dotes oratórios para suportar o embate parlamentar a que estará submetido, de forma crescente, nesta legislatura. Por isso, e para honrar a condição que o mesmo me atribuiu, vaticino que será substituído no cargo antes do final da legislatura.

Quando isso acontecer não ficarei contente porque não vivo do mal dos outros. Sei que algo o aparelho partidário lhe dará. Até acho que daria um bom eurodeputado. Aconselho, vivamente, que aproveite a purga do Dr. Paulo Casaca – só ele é que ainda não sabe que já dançou o “Último Tango no Curdistão” – e se candidate. Boa sorte!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Devolvendo o Veneno

(Imagem retirada do fôguetabraze)

A análise dos últimos 3 meses de actividade parlamentar permite concluir que o actual Presidente do Governo Regional pretende dinamitar o seu próprio processo de sucessão no seio do PS-Açores.

Ao contrário do que fez nas legislaturas anteriores, o César socialista faz questão de isolar politicamente o seu partido no Parlamento. O PS vota orgulhosamente só todos os diplomas e sofre um contínuo massacre em todas as discussões.

A posição do grupo parlamentar do PS chega a ser confrangedora. Algumas dezenas de homens e mulheres inteligentes são, permanentemente, obrigados a votar contra as suas convicções. Pode intuir-se – nas suas expressões de pesadelo – o desespero que lhes provoca o facto de terem de votar favoravelmente posições dogmáticas, sustentadas exclusivamente no capricho e na força de vontade do líder.

Dá pena ver homens e mulheres, outrora livres, abdicarem do livre-arbítrio e da independência do julgamento da razão em troca de uma obediência prussiana ao líder. Ainda por cima, o eterno líder socialista – no Parlamento desde 1980 – não possui outra fidelidade que não a si próprio. É alguém cujo comportamento táctico só tem uma premissa: a sua própria sobrevivência política.

Nestas circunstâncias, a questões essenciais são: o que fará o Carlos César após 2012 e que independência quer ele que o PS-Açores possa vir a ter do seu próprio projecto pessoal. Em 2012 Carlos César terá apenas 56 anos. Não é crível que abandone a política, pela simples razão que a política é a sua única e verdadeira profissão. Neste contexto resta-lhe a Assembleia da República ou o Governo da República.

O problema reside no timing político: não entrando na política nacional no actual ciclo político (2009-2013), só lhe resta aguardar a abertura do dique eleitoral em 2013. Temos, portanto, um período de cerca de um ano em que o actual líder não terá enquadramento institucional. Em política um ano é uma eternidade.

Nesse contexto, o que menos interessa ao Carlos César é a existência de uma liderança forte no PS-Açores em 2013. Ele quer ser - tendo em conta o seu interesse pessoal, que é a única variável que lhe interessa - o verdadeiro líder e referência do PS-Açores nesse período.

Penso que é esta linha de raciocínio que leva o Carlos César a empurrar o seu próprio partido para o precipício estratégico nesta legislatura. Por isso não divide para reinar, ao contrário do que foi sempre o seu hábito. Procura a solidão parlamentar do seu partido para continuar a, solitariamente, liderar o PS-Açores após 2012.

No final, a vitória de César será a derrota do PS. Nada disto é extraordinário. Os líderes egoístas não toleram sucessores. Veja-se o caso de Salazar. Fosse qual fosse o seu sucessor, o destino do regime estava selado. Ele fez da questão colonial a válvula de sobrevivência do regime. Sabia que esta acabaria por entupir, sendo que esperava que não fosse no seu tempo.

Para o Carlos César a questão é quase igual. A crise económica e o isolamento político transformarão o PS-Açores numa balbúrdia. Mas não será no seu tempo.

PS – Para o fim-de-semana tenho um oráculo reservado para o Dr. Bradford.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Novo Marcus Tullius Detritus

Por vezes a ficção serve de referência aos políticos. No caso dos socialistas açorianos o caso é mais grave, uma vez que esta governação não é mais que pura ficção. Vai daí, o César – ávido imitador do seu homónimo da Antiguidade – lembrou-se de ressuscitar a figura do Marcus Tullius Detritus, um intriguista da pior espécie que surge no 15.º volume da colecção do Astérix (A Zaragata).

Na peripécia original, o Marcus Tullius Detritus - reputado criador de desavenças e mal-entendidos - tenta semear a discórdia na aldeia gaulesa do Astérix. Depois de muitas confusões, o Detritus é desmascarado e as legiões de César são novamente vencidas.

Na adaptação açoriana desta aventura do Astérix, o papel do Marcus Tullius Detritus é desempenhado pelo Dr. André Bradford, distinto Secretário da Presidência, que não encontrou melhor ocupação que citar as poucas referências que fiz às outras forças da oposição açoriana no livro que escrevi o Verão passado: “Excertos de uma Oposição Monárquica ao Regime Cesarista Açoriano”.

Este livro é, em mais de 99% do seu conteúdo, dedicado à denúncia – que se pretende bem-humorada - do actual regime cesarista açoriano. O propósito do Detritus açoriano é causar a discórdia no campo da oposição parlamentar. De certa forma, a reacção da Mercearia César mostra que a estratégia está a resultar.

Não deixo, no entanto, de reconhecer que alguns dos meus artigos podem ser considerados autênticos casus belli por parte dos visados. Ainda assim, a minha atenção continuará totalmente centrada no combate político ao cesarismo açoriano. Nem sequer tenho tempo para mais nada. O Dr. André Bradford também deveria ter mais que fazer. Não acha?