segunda-feira, 26 de outubro de 2009

PPM quer suspensão da avaliação dos professores

No mesmo dia em que o novo elenco governativo de José Sócrates toma posse, sem maioria absoluta e com uma nova titular para a Educação, o deputado regional Paulo Estêvão apresenta uma iniciativa parlamentar para suspensão da avaliação docente na Região.

Em conferência de imprensa esta segunda-feira de manhã, véspera do início de mais uma sessão plenária na cidade da Horta, Faial, o parlamentar monárquico disse aos jornalistas que não tem dúvidas de que o modelo vai ser alterado. "Até podem não votar este (de iniciativa do PPM) mas votarão um outro muito semelhantes", disse.

Para Paulo Estêvão, o novo quadro parlamentar na Assembleia da República vai ditar o fim do actual modelo de avaliação de desempenho dos professores. Até porque, acrescentou, já existem propostas anunciadas por parte de mais do que um dos grupos parlamentares com assento no Parlamento nacional, em que o PS perdeu a maioria.

"O nosso modelo (nos Açores) partilha, com o modelo nacional, todos os desajustamentos que agora se reconhecem, de forma maioritária, na Assembleia da República", considerou. Assim, questiona o deputado monárquico, "faz sentido manter na Região um modelo de avaliação que vai deixar de existir no continente e nem existe na Madeira?".

Tendo em conta o calendário parlamentar, o PPM conta que esta iniciativa – um Projecto de Decreto Legislativo Regional para suspensão do modelo de avaliação do desempenho dos docentes na Região – seja votada no plenário de Janeiro próximo, pelo que, Paulo Estêvão, considera que, até lá, há tempo para uma análise e debate sérios.

Açoriano Oriental

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Uma Grande Ministra para Portugal

A Dr.ª Gabriela Canavilhas é a nova Ministra da Cultura de Portugal. Trata-se, na minha opinião, de uma excelente escolha. Ao longo desta legislatura tive a oportunidade de acompanhar o trabalho da nossa Directora Regional da Cultura e devo dizer que fiquei absolutamente rendido ao seu profissionalismo, empenho e generosidade.

Não me esqueço do apoio que deu à ilha Corvo quando ali fez deslocar a exposição sobre a Amália Rodrigues e do parecer positivo sobre a colocação de um professor de música na Escola Básica Integrada Mouzinho da Silveira.

No desempenho das suas funções, a Dr.ª Gabriela Canavilhas nunca deixou transparecer o menor sectarismo. Sei que estava empenhada em resgatar a cultura popular musical da ilha do Corvo, nomeadamente o Grupo Folclórico e a Filarmónica, e que cumpriria escrupulosamente a sua palavra.

Desejo-lhe as maiores felicidades no desempenho das suas novas funções.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Que República se comemora em 2010?

O historiador Rui Ramos sobre os ideais republicanos e a pertinência de celebrar um século sobre a sua implantação.

Em 2010, a propósito do "centenário da república", vamos comemorar o quê? Uma ideia – a ideia de república? Um acontecimento – o derrube revolucionário da monarquia constitucional nas ruas de Lisboa em 5 de Outubro de 1910? Ou um regime – o que resultou do monopólio do Estado e do constrangimento da vida pública por um partido da esquerda radical, o Partido Republicano Português, entre 1910 e 1926? Talvez alguém, um dia, nos venha explicar o que significa a efeméride. Entretanto, examinemos as hipóteses, antes de reflectir um pouco sobre a especulação político-partidária que pode estar por detrás de tudo isto.

UMA IDEIA?

Se é para comemorar a ideia de república, a escolha do 5 de Outubro de 1910 não é a mais feliz, embora seja há muito tempo feriado nacional. É que aquilo que desde o séc. XVIII interessou aos verdadeiros "republicanos" nunca foi saber se o chefe de Estado é electivo ou não mas o tipo de Estado e vida pública. O ideal republicano era o de uma comunidade de cidadãos independentes a viver sujeitos às leis e não ao arbítrio de outros homens, mesmo que tivessem um rei, como a Grã-Bretanha.

Nesse sentido, o processo de republicanização não foi obra da revolução de 1910 mas da chamada "revolução liberal" da primeira metade do séc. XIX: foram os liberais que reduziram o rei a um chefe de Estado com poderes definidos por uma constituição e que estabeleceram em Portugal o princípio do Estado de Direito e as instituições e cultura da cidadania.

Na prática, os liberais fizeram da monarquia constitucional o que eles referiam como "uma república com um rei", isto é, uma comunidade de cidadãos livres com um chefe de Estado dinástico. A Câmara dos Pares estava aberta a todos os que satisfizessem requisitos legais que nada tinham a ver com o nascimento. A Igreja ainda era oficial (como, aliás, nas repúblicas desse tempo) mas havia liberdade de consciência e estava previsto o registo civil.

Nesse sentido, se as comemorações de 2010 visam celebrar o fim da monarquia constitucional, governada pelos liberais, estaremos então perante uma festa reaccionária para vitoriar o fim de um regime que trouxe as instituições do Estado moderno, a extinção das ordens religiosas, o Código Civil e o maior eleitorado, em termos proporcionais, antes de 1975?

Em 1910, é verdade, a monarquia constitucional estava em grandes apuros. Tinha uma classe política desacreditada e incapaz de assegurar bom governo e o jovem rei D. Manuel II era atacado por quase toda a gente, da direita e da esquerda. O Partido Republicano Português, um movimento sobretudo lisboeta, conseguira criar um sério problema de ordem pública que a monarquia constitucional nunca poderia ter resolvido sem se negar a si própria, tornando-se num regime repressivo, o que a sua classe política não podia aceitar. Quando o PRP resolveu tentar a sua sorte, em Outubro de 1910, subvertendo a guarnição de Lisboa, quase ninguém apareceu para defender o regime.

Tudo isto é verdade. Mas se o objectivo é celebrar a morte de sistemas políticos apodrecidos, ignorando o que se lhe seguiu, não deveríamos comemorar também o 28 de Maio de 1926, que pôs fim a um regime desacreditado?

UM REGIME?

Gostamos de contrastar o actual regime democrático, desde 1974, com a ditadura do Estado Novo (1933-1974). Mas o regime implantado em Portugal em 1910 e que durou até 1926, a chamada I República, tem tão pouco a ver com a actual democracia como o salazarismo. A I República passou por várias situações e foi dirigida por várias personalidades. Mas na sua versão dominante, associada ao monopólio do poder pelo Partido Republicano Português de Afonso Costa, foi um dos regimes mais intolerantes, exclusivistas e violentos do séc. XX em Portugal.

A "democracia" do PRP assentou na redução do eleitorado através da negação do direito de voto aos analfabetos: durante a monarquia, puderam votar 70% dos homens adultos em Portugal; com a I República, essa percentagem reduziu-se a 30%. A "tolerância" de Afonso Costa consistiu numa guerra de morte à Igreja Católica, sujeita a uma "lei de separação" que visava, de facto, o contrário: a sujeição do clero e dos católicos à prepotência e arbítrio de um Estado hostil. Críticos e oposicionistas ficaram sujeitos à violência dos ‘gangs’ armados do PRP, que em 1911 trataram de destruir (dizia-se então "empastelar") todos os jornais ditos "monárquicos" em Lisboa.

A I República foi ainda o primeiro regime a excluir expressamente as mulheres da vida cívica, ao negar-lhes por lei o direito de voto. Nas colónias de África, seguiu uma política dura e racista, que em 1915 chegou ao genocídio das populações do Sul de Angola. Afonso Costa forçou ainda a entrada de Portugal na I Guerra Mundial (1914-1918). Em dois anos, houve quase tantos mortos como nos 13 anos de guerras coloniais entre 1961 e 1974. É com este regime que a nova democracia portuguesa quer identificar-se em 2010?

O que explica então esta fúria comemorativa? Fundamentalmente, as metamorfoses da esquerda. As esquerdas portuguesas, há 30 anos, eram marxistas, de linha soviética, maoista ou social-democrata "avançada". Desprezavam os velhos republicanos, patriotas e colonialistas, de que uma parte até aderira ao Estado Novo na década de 1960, por causa das colónias (Norton de Matos, por exemplo, tornou--se uma referência da propaganda colonial salazarista). Basta ler os livros de História publicados na década de 1970 por autores marxistas: o republicanismo era para eles uma coisa "pequeno-burguesa", de caixeiros com bigodes.

Depois do 25 de Abril de 1974, o coronel Vasco Gonçalves, na tomada de posse do II Governo Provisório, em Julho, avisou logo que a revolução não tinha sido feita para voltar "ao triste passado de antes de 1926". Exactamente: a república, para as esquerdas portuguesas em 1974, era um "triste passado". Aliás, um dos partidos logo convidados para integrar o Governo Provisório foi o Partido Popular Monárquico, por via do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. Tanto Álvaro Cunhal como Mário Soares, filhos de antigos republicanos, evitaram o anticlericalismo, até para poderem conviver com os "católicos progressistas", que formaram uma das principais componentes das esquerdas portuguesas na década de 1970.

A Democracia em Portugal, entre 1974 e 1976, foi construída contra o Estado Novo mas também contra a I República. Desde logo, constitucionalmente. Ninguém queria o parlamentarismo e o desregramento dos partidos. Por isso, a Constituição de 1976 inspirou-se na monarquia constitucional, ao estabelecer um Presidente da República que, à parte o ser eleito por sufrágio universal, tinha os mesmos poderes do Rei da Carta Constitucional de 1826. Por essa via, o regime com o qual, de facto, a actual democracia tem mais em comum é a monarquia constitucional de 1826-1910.

As esquerdas portuguesas só mudaram de opinião perante a velha república quando deixaram de ser marxistas e de querer fazer em Portugal uma revolução socialista. Para se distinguirem de uma direita cujo modelo de liberalização económica aceitaram numa forma mitigada, começaram a valorizar outra vez os "valores republicanos", como fez a esquerda socialista francesa, e sobretudo adoptaram o programa de "fracturas culturais" da esquerda americana.

A fim de dar profundidade histórica a esta reconfiguração ideológica, identificaram-se com o laicismo anticlerical da velha I República. Mais: ocorreu-lhes que identificar esta democracia com a I República de 1910-1926 seria a maneira de legitimar oficialmente o exclusivismo de esquerda e fazer com que os liberais e os conservadores não se sentissem em casa no actual regime. O resultado é um travesti histórico. Os velhos republicanos de 1910 eram profundamente patriotas, machistas e homofóbicos. Foi a I República que, em 1922-1923, proibiu e mandou apreender a ‘Sodoma Divinizada’ de Raul Leal e as ‘Canções’ de António Botto, das primeiras defesas abertas da homossexualidade em Portugal. Que diriam os déspotas do PRP se soubessem que a comissão do centenário pensou em comemorá-los com o casamento gay? Saberiam apreciar a ironia da História?

REPÚBLICAS HÁ MESMO MUITAS

A Coreia do Norte é uma república, tal como Portugal; a Bélgica uma monarquia. O actual regime português tem, felizmente, mais a ver com a Bélgica do que com a Coreia do Norte. A nossa República Portuguesa, desde 1910, já foi muita coisa, com situações constitucionais diversas: a I República (1910-17), a República Nova (1918), outra vez a I República (1919-26), a Ditadura Militar (1926-33), o Estado Novo (1933-74), o PREC (1974-76), a Democracia (a partir de 76). Comemorar a implantação é comemorar o quê? Todos esses regimes? Só um deles – e qual?

REPÚBLICA PARA TODOS OS PORTUGUESES

O grande problema da I República de 1910-26 foi saber-se se era um regime aberto a todos os portugueses ou só para alguns. Os líderes do dominante Partido Republicano Português de Afonso Costa, situado na esquerda radical, achavam que devia ser só para os militantes do seu partido, que monopolizavam o Governo e todos os empregos no Estado. Recusavam o princípio da alternância no poder ("na república não se governa para a direita") e qualquer desvio à linha anticatólica.

Outros republicanos – como os Presidentes Manuel de Arriaga e Sidónio Pais e o "fundador da república", Machado dos Santos – quiseram, pelo contrário, fazer uma "república para todos os portugueses", isto é, conciliadora com a Igreja Católica e aberta à participação no espaço público de quem não era militante dos republicanos ou não tinha ideias de esquerda. Por isso, Arriaga foi deposto em 1915 e Sidónio e Machado dos Santos assassinados (em 1918 e 1921).

DO GOVERNO DA REPÚBLICA PELO REI

É o título de um livro de Diogo Lopes Rebelo publicado em 1496, no tempo do rei D. Manuel I. Como salientou o historiador Vitorino Magalhães Godinho, os reis e as cortes portuguesas a partir do século XV sempre pensaram no reino de Portugal como uma "república" no sentido clássico: um governo em que, independentemente da origem do poder dos governantes, estes regiam o Estado tendo em conta o bem público e de uma maneira regular e legal, sem arbítrio pessoal.

Mais tarde, sobretudo a partir do século XVIII, acrescentou-se a esta ideia de república o princípio da participação dos cidadãos no governo, através de instituições representativas e em nome da soberania da nação. A monarquia constitucional portuguesa, no século XIX, foi esse tipo de "república". Portugal já era, neste sentido, "republicano" muito antes de 1910.

Rui Ramos

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Em defesa da Liberdade e da Democracia

Declaração Política


(Em defesa da Liberdade e da Democracia)


Senhor Presidente
Srs. Deputados
Srs. Membros do Governo

O maior dos Presidentes americanos, Abraham Lincoln, definiu, uma vez, a democracia e a liberdade como o “governo do povo, pelo povo e para o povo”. No momento em que proferiu este discurso memorável, Lincoln falava num cemitério militar. Honrava aqueles que tinham dado a sua vida pela liberdade dos outros.

Nos nossos dias, a defesa da liberdade e da democracia não exige um sacrifício tão dramático. A defesa da democracia exige que todos cumpram o seu dever de cidadania, pelo qual tantos, ao longo da história, deram as suas vidas. O cumprimento desse dever honrará a memória de todos os democratas que deram a sua vida em defesa da democracia. Só por si, essa já seria razão, mais que suficiente, para votar.

No entanto, o governo do povo, pelo povo e para o povo não se coaduna com tibiezas na defesa da legitimidade das instituições democraticamente eleitas. Aqueles que defendem o voto em branco como forma de protesto são inimigos da liberdade e da democracia. Aqueles que defendem a abstenção como forma de protesto são inimigos da liberdade e da democracia.

Quem não concorda com as políticas do Governo, deve votar nos partidos da oposição. Quem não concorda com as alternativas dos partidos da oposição, deve votar no partido governamental. Quem não concorda nem com uns, nem com outros, tem o dever de criar alternativas democráticas, criando outros partidos ou outras formas de intervenção cívica.

Ficar em casa à espera que tudo se derrube. Ficar à espera – como alguns dizem – que chegue um novo Salazar, é absolutamente, rotundamente, condenável.

Senhor Presidente
Srs. Deputados
Srs. Membros do Governo

Vivemos tempos difíceis. Nenhum governo possui a receita milagrosa para melhorar instantaneamente as coisas. Acredito que muitos governos fazem o melhor que sabem e podem. A única forma de melhorar o governo do povo pelo povo e para o povo é através da participação de todos no processo político. Todos devemos ser políticos.

Que moralidade têm, para criticar, aqueles que ficam comodamente em casa a protestar. Para mim não têm nenhuma. No entanto, considero que a participação democrática, sendo um dever cívico, não deve ser imposta à custa da liberdade. O paradoxo seria que, para defendermos a liberdade, limitaríamos essa mesma liberdade. A partir daí corremos o risco de entrar numa espiral de medidas – que sendo inicialmente bem-intencionadas – podem levar-nos a impor uma democracia iluminada aos descrentes, aos niilistas ou aos menos informados.

O caminho não é, por isso, o voto obrigatório. O caminho da defesa da democracia começa num maior esforço de todos para dar respostas aos cidadãos. Começa nas escolas reforçando a educação cívica. Ensinando o que custou a democracia. Demonstrando que ela é como o ar que respiramos: todos a respiramos e a partilhamos, mas só lhe daremos verdadeiro valor se, um dia, a deixarmos de ter. Por isso temos de a proteger das suas próprias fragilidades e contradições. Temos de ter uma postura ecológica combatendo a poluição que é a abstenção. A democracia não é um dado adquirido. É necessário lutar por ela todos os dias do resto das nossas vidas.

Senhor Presidente
Srs. Deputados
Srs. Membros do Governo

O que vou dizer a seguir é o meu contributo para a democracia. Vou expressar a minha incomodidade em relação a alguns assuntos, em nome dos eleitores que me elegeram. Não falo por todos, falo por alguns. Não se esqueçam que a democracia é para todos.

Sempre achei que, uma vez chegado ao Parlamento, a minha voz, e a dos que represento, seria ouvida nesta casa da liberdade se as causas fossem inequivocamente justas. Só quando se ouvem os outros e se age no sentido de resolver os problemas concretos é que a democracia se cumpre.

Constato, com grande pena e desilusão, que nem sempre é assim. Trabalho, neste Parlamento, em condições de absoluta desigualdade. A delegação desta Assembleia na ilha do Corvo é um direito estatutário, uma condição de igualdade para mim e para aqueles que represento.

Digo-vos, que cada dia em que todos os outros deputados usufruem de algo que me é negado por inércia, incompetência, cálculo político ou qualquer outra razão é uma negação da igualdade e da democracia neste Parlamento. Lembrem-se, todos os dias que se sentarem nos vossos gabinetes e utilizarem os meios que a democracia colocou à vossa disposição, lembrem-se que – nesse mesmo dia – isso me foi negado.

Lembrem-se que cada vez que puderem ficar junto dos vossos filhos, porque podem participar numa sessão por videoconferência, lembrem-se que isso me foi negado. Lembrem-se, quando se sentarem nos vossos gabinetes na próxima segunda-feira, que eu não terei essa possibilidade, apesar da lei me reconhecer esse direito.

Espero, há sete meses, pela vossa consciência. Espero, há sete meses, que me sejam dadas condições para desenvolver o meu trabalho parlamentar na ilha onde vivo e quero viver, aconteça o que acontecer.

Não se esqueçam de adicionar, por cada dia que passa, uma parcela de desigualdade na nossa democracia. A abstenção também se combate assim, agindo contra a desigualdade. Agindo contra a injustiça. Tudo isso deveria começar neste Parlamento.

Se o preconceito, a negligência e a desigualdade triunfam assim no nosso Parlamento, então algo vai de facto mal no nosso sistema político.

Disse!


Horta, 17 de Junho de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Estratégia

Terminou, finalmente, este ciclo eleitoral! Desde o início que tinha a plena consciência que não estávamos preparados para enfrentar as três eleições que marcaram este ciclo eleitoral. As primeiras duas eleições – europeias e legislativas – tinham, marcadamente, uma projecção nacional. Ora, a nossa debilidade nacional não nos dava qualquer visibilidade mediática no contesto nacional. Isto para não falar da ausência de meios minimamente adequados. Por outro lado, a impossibilidade real de eleger, em qualquer das eleições, tornou o voto no PPM num exercício de pura militância.

Ainda assim, não tinha outra alternativa senão candidatar-me para – sobretudo – tentar segurar o estatuto do PPM como segunda força política na ilha Corvo. Esse objectivo tinha de ser conseguido sem massacrar o eleitorado corvino, evitando bater-lhe sistematicamente à porta. Foram feitas duas campanhas pouco intensas que, apesar de tudo, seguraram a nossa posição.

No que diz respeito às eleições autárquicas, o cenário era igualmente sombrio para a oposição. Ninguém estava, na ilha do Corvo, em condições de enfrentar a candidatura do Sr. Manuel Rita e do conjunto de apoios de que esta desfrutava. Não se trata de somar os votos dos partidos. Na verdade, o núcleo duro do PS é de cerca de 90 votos na ilha do Corvo, sendo que sozinho supera os do PPM, PSD e CDS/PP somados. A partir daí, os restantes votos são flutuantes e dependem, sobretudo, dos votos “contra alguém”. No caso em apreço, contra mim e os restantes líderes dos partidos de direita.

Sendo o Sr. Manuel Rita um candidato muito forte, contando com o apoio do PS local, da Câmara Municipal, do Governo Regional e logrando federar todos os interesses de quem nos queria ver derrotados, mesmo os oriundos da nossa área política, o que nos passou por cima acabou por ser um autêntico rolo compressor.

Perante este cenário, previsível e imutável desde o início, o que poderíamos nós fazer? A única opção inteligente era barricar-nos e conquistar as colinas possíveis, pensando no futuro. O PPM ficou frente-a-frente com o PS na Assembleia Municipal (4 para 11) e ajudámos a eleger ainda uma vereadora para o PSD, falhando o segundo vereador por apenas 2 votos (4-1). Em termos políticos, o PPM conta agora com um deputado regional, 4 deputados municipais e partilhamos com o PSD a eleição do único vereador da oposição. Tudo o resto são eleitos do PS. Do ponto de vista “geopolítico” a nossa posição está mais valorizada que anteriormente.

Seja como for, a obsessão do PS é riscar o PPM do mapa parlamentar. Isso significa esmagar-nos na ilha do Corvo. Quais são, então, as opções do PS para 2012? Podem tentar duplicar a nossa votação, algo que lograram nos dois últimos actos eleitorais, ou então incrementar a votação noutro partido, como fizeram em 2008. Para atingir esse desiderato utilizarão todos os meios disponíveis e contarão com o apoio de um executivo camarário muito mais forte e experiente. A nossa estratégia também já está idealizada, mas, como é óbvio, não a vou revelar.

Falta dizer que o despotismo que nos governa obteve, no último Domingo, mais uma vitória eleitoral. Faço oposição ao PS/Açores há treze longos anos e sinto-me preparado para a continuar a fazer o resto da vida que Deus ainda me reservar. No Parlamento, ou fora dele, a minha voz nunca baixará a guarda na luta contra a tirania socialista. Um regime que aprofundou, ao longo do seu mandato, a desigualdade entre as pessoas e que utiliza o medo e a coacção como instrumentos para se perpetuar no poder.

É nestas alturas que Winston Churchill é uma inspiração: “Defenderemos a nossa ilha qualquer que seja o sacrifício, combateremos nas praias, combateremos nos campos e nas ruas, combateremos nas montanhas e nas colinas: nunca nos renderemos.”

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Deputados Municipais Eleitos nos 19 Municípios dos Açores


Combater!


“Defenderemos a nossa ilha qualquer que seja o sacrifício, combateremos nas praias, combateremos nos campos e nas ruas, combateremos nas colinas: nunca nos renderemos.”

Sir Winston Churchill

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

domingo, 4 de outubro de 2009

Eu Pensava Que Esta Raça de Gente Tinha Sido Corrida à Bomba e à Batatada

Hoje, no jornal El Pais, li um artigo preocupante sobre a legitimação e crescimento do fascismo italiano. Sobre a forma como os outros, em razão do seu nascimento, etnia, ideologia ou opção sexual são perseguidos.

Toda a minha vida combati todos os tipos de segregação. Se existe coisa que me põe fora de mim é o racismo, o preconceito ou até a forma como os indivíduos são socialmente enxovalhados em razão da sua opção sexual. Por isso não posso aceitar que alguém publique textos de cobardes que glorificam a violência contra outros portugueses – os continentais – que não são “filhos da terra”.

Somos todos portugueses, independentemente do local de nascimento e da cor da pele, e temos os nossos direitos e deveres de cidadania intactos em todas as parcelas deste país. Estou empenhado em viver livremente no meu país e não tolerarei qualquer forma de preconceito pelo facto de ser um continental que escolheu os Açores para viver e morrer, se Deus quiser.

Adoro esta terra e este Povo e sinto-me açoriano. Mais um, entre iguais. Aliás, nunca senti qualquer espécie de discriminação – vivo nos Açores há 14 anos – a não ser agora nesse comentário que problematiza a real eficácia das bombas e da batatada. Neste momento, pondero entre dois valores que me são caros: a liberdade de expressão e o dever de levar à justiça quem glorifica e exalta a violência gratuita contra os outros.

sábado, 3 de outubro de 2009

Carlos César no Governo de José Sócrates

O Presidente do Governo Regional descontrolou-se emocionalmente nos festejos da “vitória” eleitoral do passado dia 27 de Setembro. Aquilo assemelhou-se a uma espécie de dança da chuva, colorida com demonstrações bizarras de virilidade e alvitrantes provas de humilhação para os adversários. Uma coisa realmente pré-histórica, só observável, nos dias de hoje, nas tribos amazónicas privadas de qualquer contacto civilizacional.

Chegam-me informações, segundo as quais “aquilo” foi a forma que o Presidente do Governo Regional encontrou para se despedir da política açoriana. O actual Presidente do Governo estará convidado para integrar o próximo Governo socialista da República - já apelidado, para a história, de “O Breve” - como Ministro dos Assuntos Parlamentares. Depois das eleições autárquicas veremos se este cenário se confirma.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Debate

Condenando as Teorias Xenófobas do Nacional-Socialismo

Fiat Lux

Desiludiu-me profundamente o seu comentário em que considera que “apesar da dureza do comentário de XXX também acho exagerado ver ali alguma ameaça quer a si quer à sua família”, quando o que este afirmou, no contexto da análise do debate em que participou a Deolinda Estêvão, foi o seguinte: “Eu pensava que esta raça de gente, tinha sido corrida à bomba e à batatada há uns anos.”

Este comentário possui, claramente, uma natureza xenófoba e apela explicitamente à violência. Ao publicar este lixo xenófobo, o senhor torna-se conivente com este tipo de afirmações. Como certamente saberá, quem foi corrido à batatada e à bomba no período pós-revolucionário foram os comunistas ou os simples suspeitos de o serem. Os outros – mesmo os continentais que estavam ligados ao antigo regime – mantiveram-se nas posições que ocupavam.

Não posso é deixar de condenar veementemente os cobardes que a coberto do anonimato glorificam a lei da bomba e da batatada. Na essência, não são diferentes dos militantes e simpatizantes da ETA que defendem e desculpabilizam o tiro na nuca contra os não bascos.

Quanto à análise do debate, nada tenho a dizer. Cada um tira as suas ilações e faz as críticas que bem entender: é assim a democracia.