terça-feira, 26 de maio de 2009

Temos de Evitar a Auto-imolação Açoriana


Nunca me cansarei de alertar os açorianos para a necessidade do Vital Moreira não ganhar nos Açores. Este senhor não pode, em nenhuma circunstância, sentir-se legitimado para falar em nosso nome. Pelo contrário, o cabeça-de-lista do PS tem de sentir que as suas acções contra a autonomia e o Povo Açoriano merecem uma forte repulsa do eleitorado - socialista e não socialista – açoriano. Trata-se de ajustar contas com 35 anos de ofensas ao Povo Açoriano.

Relembro o que este homem disse, só nos últimos dois anos, a respeito da autonomia açoriana.

“Este insólito regime de favor tem algumas raízes na Constituição (como a independência orçamental e o direito às receitas fiscais), mas foi sendo progressivamente conquistado pelos governos regionais aos governos da República, culminando com a Lei de Finanças Regionais de 1998, no tempo de Guterres (de quem haveria de ser?!), que se traduziu numa verdadeiro "assalto" regional ao Orçamento do Estado.

Na verdade, são vários os títulos pelos quais as regiões autónomas "sacam" dinheiro do Orçamento do Estado. Como se vê, tudo somado, trata-se de uma verdadeira cornucópia jorrando dinheiro do continente para as regiões autónomas.No meio desta "labúrdia" financeira há situações verdadeiramente escandalosas. Seja como for, as regiões autónomas não podem viver eternamente à custa do continente e têm de ser solidárias com as dificuldades financeiras da república.

Sendo assim, nada justifica aquele bónus das regiões autónomas, que é uma sobrecarga injustificada sobre os contribuintes do continente. Além de financeiramente insustentável, essa isenção tornou-se politicamente imoral.

Continua a prevalecer nas regiões autónomas, sem grandes diferenças entre elas e entre as diversas forças políticas regionais, o entendimento de que elas só têm direitos e nenhumas obrigações, de que a "solidariedade nacional" é de sentido único e de que, visto das ilhas, o país não custa dinheiro e que o continente terá de continuar a ser sempre uma cornucópia para as regiões autónomas, por mais ricas que elas se tornem.

Há dias, um conhecido porta-voz separatista madeirense afirmava provocativamente que "quem quer ilhas paga-as". Antes que um número crescente de portugueses se comece a interrogar sobre se o elevado preço se justifica, é caso para lembrar que não há países grátis e que os seus custos comuns devem ser suportados por todos, a começar pelos que gozam, ou estão em vias de gozar, de riqueza acima da média nacional. “

(Excertos de dois inacreditáveis artigos de opinião de Vital Moreira no Público – 2006/2008)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Alguém Andou a Faltar às Aulas de Geografia


“ É importante que os portugueses pensem nestas coisas: Portugal tem onze milhões de habitantes e uma superfície de 98 mil quilómetros quadrados. Não somos um pequeno país. É mentira! Somos o décimo país europeu, em grandeza de população e de superfície, e temos 24 deputados europeus.”

(Carlos Ribeiro, candidato da CDU ao Parlamento Europeu)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vital Moreira


O cabeça-de-lista do PS nestas eleições europeias é o maior inimigo histórico da autonomia açoriana. Trata-se de um personagem sinistro, um ex-estalinista disfarçado de avô cantigas. Aconselho a leitura dos diários da Assembleia Constituinte (1975) a todos os que já não se lembram do que defendia o Vital Moreira naquele período.

O seu fanatismo ideológico e a retórica inclemente contra o Povo dos Açores ainda hoje impressionam. Só encontro paralelo – no que diz respeito ao grau de intolerância e violência sectária – com o que dizia o Robespierre no auge da paranóia e do terror revolucionário.

Como quase sempre sucede com as almas mais empedernidas, o primeiro dos revolucionários depressa perdeu o ardor revolucionário e desertou do mundo ideológico que tanto dogmatizou. Nestes últimos anos andou por aí, como um fantasma grotesco do passado, sem nunca esmorecer no ódio delirante que sempre dedicou à Autonomia Açoriana. A ele pertenceram os piores libelos contra a revisão do Estatuto dos Açores.

A questão que se coloca é: podem os açorianos, socialistas e não socialistas, votar num cabeça-de-lista eleitoral com este passado? Eu acho que não o farão. Afinal, como diz o bom povo, “quem não se sente, não é filho de boa gente”.

sábado, 16 de maio de 2009

O Apoio de Cabo Verde



“Seria muito interessante haver essa plataforma da Macaronésia. Há quatro arquipélagos: Açores, Madeira e Canárias, que são regiões ultraperiféricas da União Europeia (UE), e Cabo Verde, que é um Estado independente”, referiu o primeiro-ministro ontem, 14 de Maio, à agência “Lusa”.

“Mas há todo o interesse, nomeadamente no quadro da Parceria Especial entre Cabo Verde e a UE, que haja a inserção de Cabo Verde nesse espaço regional. Vejo com muito interesse essa proposta”, concluiu José Maria Neves, sem adiantar pormenores, à margem do Fórum Internacional sobre a Governança Local e Desenvolvimento do Território, que terminou hoje, 15 de Maio, na Praia.

A proposta foi apresentada na terça-feira, 12 de Maio, por Paulo Estêvão, candidato açoriano pelo Partido Popular Monárquico (PPM) ao Parlamento Europeu. O também deputado pelo PPM nos Açores explicou que numa primeira fase Cabo Verde entraria no projecto apenas como “observador”, pois o país não faz parte da União Europeia.
(Agência Lusa)

PS – Dada a grande quantidade de insultos anónimos recebidos neste blogue e na medida que não quero dar o prazer, a quem só sabe ofender e insultar, de se saber lido, informo que não serão publicados mais comentários.

Em Defesa da Cultura Taurina e da Sorte de Varas

O debate sobre a legalização da sorte de varas nos Açores sucede num momento em que a cultura taurina sofre, em Portugal, uma forte ofensiva dos sectores antitaurinos.

O debate em torno da sorte de varas é, para a maioria dos sectores que a contestam, apenas um pretexto para atingirem o objectivo final que perseguem com afinco: a proibição de todas as manifestações da tauromaquia. De todas! Desde as touradas de Praça, às touradas de corda. Essa é a agenda escondida da maioria esmagadora daqueles que combatem esta iniciativa que visa restabelecer a sorte de varas nos Açores.

De outro modo, como se explica que possam estar contra a sorte de varas e a favor da colocação de bandarilhas no dorso do toro? Como se explica que estejam a favor das touradas à corda – que também provocam um conjunto de lesões aos animais – e discordem só da sorte de varas?

Colocados perante estas incongruências, os mais afoitos dirão que umas são tradicionais e outras não. Dirão que umas possuem um forte apoio popular e outras não. Ora, são precisamente estes os argumentos que os movimentos antitaurinos mais contestam e relativizam. Para eles, nem a tradição, nem o gosto popular, podem sobrepor-se ao seu conceito de civilização.

Os defensores do fim das touradas consideram-se imbuídos de uma clara superioridade civilizacional. Para eles, os aficionados das toradas são uma espécie de Neandertais modernos.

Nesse sentido, nada os distingue os líderes dos movimentos antitaurinos dos imperialistas europeus que impuseram, com a Bíblia numa mão e a espingarda na outra, os seus dogmas civilizacionais aos povos africanos, asiáticos e ameríndios. No fundo, não são mais que novos inquisidores, guardiões dogmáticos de uma moral e de um conceito civilizacional que não admite a menor discrepância.

Para estes novos torquemadas, não importa que a tauromaquia seja interpretada, com outra sensibilidade, por quem a vive e a conhece. A sua particular visão da moral e dos costumes é incontestável e de aplicação universal.

Para eles não importa que a ida a uma tourada esteja dependente do livre-arbítrio de cada pessoa. Para eles não é possível o velho adágio popular: só vai quem quer. Não lhes chega a independência da sua posição individual a respeito da opção de assistir, ou não, a uma tourada. Querem mais! Querem definir, de forma totalitária, que tipo de espectáculo podem os outros ver.

Se cedermos nesta batalha, seremos confrontados com um interminável programa totalitário, definido por aqueles que se arrogam o direito de decidir por todos.

O que os impedirá de proibir a caça, actividade ancestral do homem? O que os impedirá de proibir a pesca? O que os impedirá de fazer uma nova lei seca, para evitar os danos provocados no ser humano pelas bebidas alcoólicas? O que os impedirá de proibir a actividade equestre, em que o homem viola a independência do cavalo – domando-o e colocando-lhe arreios e selas desconfortáveis – e o utiliza por motivos exclusivamente lúdicos. O que os impedirá, no limite, de proibir que os seres humanos matem e comam outros seres vivos.

Se a sorte de varas for legalizada neste Parlamento, não estaremos a impor nada a quem não gosta desta prática tauromáquica. Quem não gosta pode, simplesmente, optar por não assistir a este tipo de eventos. Pelo contrário, se esta iniciativa legislativa for reprovada estará a negar-se a um grupo de cidadãos a possibilidade de assistir a uma prática que valorizam no âmbito da diversidade da expressão tauromáquica.

A diferença é transcendental. Mesmo depois de aprovada a lei, permanecerá a liberdade de se poder assistir, ou não, à sorte de varas. Se, pelo contrário, for mantida a proibição, não existirá qualquer liberdade de escolha. Um grupo de homens imporá, a todos os outros – por puro preconceito –, as suas crenças, a sua sensibilidade e dogmas civilizacionais.

A tauromaquia inspirou decisivamente as obras-primas de referências culturais como Garcia Lorca, Ortega y Gasset Hemingway, Goya, Camilo Jose Cela, Picasso, Vargas Llosa, Salvador Dali e, porque não, desse grande poeta da liberdade que é o Manuel Alegre. Sem eles, e sem a tauromaquia que os inspirou, a civilização humana perderia, certamente, alguns dos momentos geniais que a caracterizam.

No entanto, nada disto belisca a pretensa superioridade civilizacional de que os movimentos antitaurinos se arrogam. Salvador Dali e Picasso definiram e reconheceram tauromaquia como arte e eu considero que existem boas razões para que estas opiniões sejam pelo menos tão valorizadas como a do Sr. Moutinho, Presidente da “Animal”, que pensa preciosamente o contrário.

Existiu um grande toureiro que sintetizou estas coisas com uma frase lapidar que quero dedicar ao Sr. Deputado Aníbal Pires, ilustre adversário nestas lides:”temos de nos desenganar, nisto das touradas, uns sabem o que dizem e outros dizem o que sabem”.

A este respeito, analisemos o debate público que ocorreu nos Açores. Em primeiro lugar, reconheça-se a chantagem a que quiseram submeter este Parlamento. Argumentam eles que o Estatuto passará a estar em causa se aprovarmos algo que contrarie a suposta vontade dos órgãos de soberania nacionais.

Ora, este é um argumento inaceitável. Se a ele sucumbíssemos, passaríamos a ser o Parlamento do medo e as nossas consciências passariam a ser reféns de uma censura auto-infligida.

Temos competências de autogoverno que foram duramente conquistadas pelos que nos antecederam. Desonraríamos os seus esforços e a sua memória se, a propósito deste ou de qualquer outro assunto, não agíssemos de acordo com a nossa consciência e nos deixássemos amedrontar. Vamos, obviamente, decidir, neste e em qualquer outro assunto, de forma livre, no respeito pelo Estatuto e pela Constituição.

Os que não aceitam a diversidade cultural e o direito identitário dos outros, além de apelarem ao medo, iniciaram uma vergonhosa campanha de chantagem contra as gentes açorianas de Angra do Heroísmo, ameaçando o seu estatuto de Cidade Património Mundial.

Enganaram-se, mais uma vez. Não é essa a estirpe dos açorianos. Ninguém viu – nem algum dia verá – os açorianos a deliberarem contra as suas convicções e crenças, devido a qualquer tipo de ameaça.

Não tendo resultado a campanha dos sumo-sacerdotes da moral única e do medo – cujas acções dizem tudo em relação à sua natureza não democrática –, resistem alguns argumentos que importa rebater.

Argumentam alguns, que a aprovação da sorte de varas prejudicará o potencial turístico da Região. Não se vê como. Os turistas que não gostam de touradas, ou da sorte de varas em particular, só terão de fazer o mesmo que devem e podem fazer os que não gostam: não assistir às touradas de praça. Estas realizam-se, como se sabe, em recinto fechado e pago.

Este último argumento cai por terra quando se constata que a França e a Espanha – respectivamente o primeiro e terceiro destinos turísticos mundiais – realizam a sorte de varas nos seus espectáculos taurinos, algo que fazem todos os países taurinos, com excepção de Portugal. Os factos demonstram que, longe de constituírem uma desvantagem, as touradas constituem um factor muito relevante e valorizada da oferta turística destes países.

Basta, aliás, ver a adesão dos estrangeiros às actuais touradas de corda e de praça na ilha Terceira para se constatar que os espectáculos taurinos são um factor de desenvolvimento do turismo e não o contrário. Um espectáculo cada vez mais visto e com cada vez mais aficionados, ao contrário do que nos querem fazer querer.

O outro argumento recorrente é que se trata de um espectáculo conotado com determinado espaço ideológico, no caso a direita. Escusado será dizer que se trata de outro argumento falacioso. Os aficionados do espectáculo taurino pertencem a todo o espectro partidário dos Açores e de Portugal.

Personalidades de esquerda tão relevantes como o Dr. Mário Soares, o Dr. Jorge Sampaio, o Dr. Vera Jardim, o deputado Jerónimo de Sousa e tantos outros a que não posso aqui fazer referência, são aficionados confessos das touradas.

A mesma imagem se pode extrapolar aos territórios e gentes do país taurino que somos. Salvaterra de Magos, o espelho da gestão municipal do Bloco de Esquerda em Portugal, é o concelho mais dinâmico do país no âmbito da tauromaquia. Aqui, das duas uma: ou alguém desistiu de ser profeta na sua terra, ou então alguém fez sua a célebre máxima: faz o que eu digo, não faças o que eu faço.

O caso de Barrancos, concelho gerido pelo PCP à data da legalização dos touros de morte, é outro bom exemplo de que os aficionados da festa de touros constituem, sem excepção, uma comunidade dispersa por todo o espectro partidário português.

Estamos a meio caminho entre a Europa (Portugal, Espanha e França) e a América taurinas (Venezuela, Equador, Peru, México e Colômbia), facto que unido à vontade e capacidade de afirmação dos aficionados açorianos, poderá colocar os Açores, em especial a ilha Terceira, no centro da tauromaquia mundial.

Aliás, esse caminho de afirmação internacional já começou a ser trilhado com enorme êxito. Recentemente realizou-se, na ilha Terceira, o Fórum Mundial da Cultura Taurina. Este evento constitui um sucesso de enorme dimensão. De tal forma a vitalidade da cultura taurina açoriana marcou os presentes, que as conclusões desse evento constituem o núcleo central de argumentos que compõem a candidatura da Festa de Touros a Património Cultural Imaterial da UNESCO, deliberada no passado mês de Abril.

Na verdade, é isso que está hoje em discussão neste Parlamento. Devemos, ou não, quebrar uma proibição que não nos permite aceder a condições de excelência na tauromaquia?

Eu não tenho dúvidas que devemos. Devemos fazê-lo com a coragem e a convicção de que estamos a defender um grande património artístico, de enorme relevância ecológica, cultural e ética.

Um património de origem milenar que deve ser preservado enquanto factor de diversidade cultural e de identidade específica dos povos que o preservaram ao longo da história.

No limite, devemos, neste Parlamento, afirmar os Açores como uma terra que garante a liberdade de pensamento e reconhece o relativismo e validade dos valores, usos, crenças e práticas sociais de todos.

Devemos, em síntese, levantar as proibições e dar a todos a liberdade de escolher a expressão da Festa de Touros que cada um quer ver. Sem censores. Sem donos absolutos da razão. Sem que uns poucos, decidam por todos.

O Soldado que Chega Depois da Vitória

O Dr. André Bradford resolveu juntar-se às hostes de uma batalha já ganha. Ninguém lhe perguntou a sua opinião sobre a sorte de varas, por isso permaneceu calado enquanto o resultado foi incerto. Ninguém lhe perguntou nada depois do diploma ter sido chumbado, no entanto resolveu juntar-se corajosamente às hostes vitoriosas. Obviamente, é fácil ganhar as batalhas já ganhas. Obviamente, o Dr. Bradford escolheu quem ganhou. Obviamente, demito-me de lhe chamar um político corajoso. Obviamente, o Dr. Bradford é tudo menos um Humberto Delgado. Obviamente, o Dr. Bradford nunca deixa de ser óbvio.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

sábado, 9 de maio de 2009

É Preciso Ter Lata

Selecções Desportivas Açorianas

O fenómeno desportivo constitui uma das áreas da actividade humana com maior impacto social. Nada se pode comparar com o desporto enquanto fenómeno de massas e instrumento de convergência nacional.

Neste âmbito, as grandes competições internacionais das diversas modalidades constituem momentos de afirmação nacional à escala planetária. Nenhum outro evento mundial pode competir com a visibilidade de uns Jogos Olímpicos ou de um Mundial de Futebol.

Ao contrário do que comummente se pensa, a inscrição nas grandes federações desportivas internacionais não está exclusivamente reservada aos países independentes.

Veja-se, neste particular, o caso da FIFA. O ponto 6 do artigo 10.º, dos Estatutos da FIFA, refere o seguinte: “com autorização da associação do país da qual dependa, a associação de futebol de uma região que ainda não tenha obtido a sua independência, poderá solicitar a sua admissão na FIFA”.

De facto, das duzentas e oito associações que integram a FIFA, mais de duas dezenas não representam países soberanos. A lista é a seguinte: Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte, Inglaterra, Ilhas Virgens Britânicas, Montserrat, Bermuda, Palestina, Ilhas Turks e Caicos, Ilhas Caimão, Anguilla, Nova Caledónia, Tahiti, Ilhas Virgens Americanas, Porto Rico, Samoa Americana, Guam, Ilhas Cook, Macau, Hong Kong, Ilhas Faroe, Antilhas Holandesas e Aruba.

O mesmo cenário poderá ser encontrado nas diferentes federações desportivas internacionais. No âmbito da admissão dos Comités Olímpicos Nacionais, aplicam-se o mesmo tipo de excepções estatutárias. É por isso que a quase totalidade dos territórios autónomos que integram a FIFA possuem Comités Olímpicos Nacionais e participam, em virtude disso, nos Jogos Olímpicos.

Constata-se, assim, que as associações desportivas açorianas podem aderir às respectivas federações desportivas internacionais, sempre e quando as federações desportivas nacionais, onde as mesmas se encontrem integradas, o autorizem.

A afirmação desportiva autónoma dos Açores no cenário internacional é, assim, possível. De seguida enumera-se o conjunto de motivos que justificam que a Região crie as suas próprias selecções desportivas para competir no âmbito das grandes competições desportivas internacionais organizadas pelas respectivas federações desportivas internacionais.

O primeiro factor relaciona-se com a dimensão que o desporto já adquiriu na Região. Possuímos mais de 21 mil atletas federados, 46 associações desportivas, 240 clubes e competições organizadas em 41 modalidades. Alguns dos nossos clubes conseguem competir, ao mais alto nível, em modalidades desportivas como o andebol, o hóquei em patins, o voleibol ou o futebol.

Tudo isto apesar da enorme desvantagem que resulta da descontinuidade territorial da Região. Ainda assim, possuímos uma dimensão desportiva que superara os valores alcançados por grande parte dos outros territórios autónomos que integram as federações desportivas internacionais.

A dimensão desportiva já alcançada pela Região possui graves condicionalismos no âmbito do acesso à alta competição. Devido sobretudo a factores geográficos, financeiros e estatutários a presença açoriana nas selecções nacionais está longe de possuir uma correlação equilibrada entre o número de praticantes da Região e o número de atletas seleccionados para as diferentes selecções desportivas.

A criação de selecções desportivas próprias a competirem na Europa ou na América do Norte – dependerá das modalidades – proporcionará aos nossos atletas o acesso a quadros competitivos de grande qualidade.

Neste âmbito, importa realçar que a integração de selecções desportivas próprias em nada afectará a integração dos clubes e das associações açorianas no desporto português, uma vez que a inscrição das associações açorianas nas federações desportivas internacionais não é incompatível com a manutenção da integração no movimento associativo desportivo português e das provas desportivas por ele organizadas. Este projecto parte, aliás, da premissa que a integração associativa e desportiva do desporto açoriano no contexto nacional se manterá. De outra forma, os resultados seriam, certamente, contraproducentes.

A manutenção dos quadros competitivos regional e nacional, acrescido da vertente internacional, dará ao desporto açoriano condições de enorme progresso competitivo.

Um bom exemplo é o das Ilhas Faroe, um território autónomo da Dinamarca com apenas 47 mil habitantes. O extraordinário progresso competitivo da sua selecção de futebol é um exemplo de que é possível melhorar imenso o desempenho desportivo, mesmo enfrentando as grandes potências desportivas europeias.

Como decorre do argumento anterior, é evidente que as diferentes selecções desportivas portuguesas não integram um número significativo de atletas açorianos. Nesse sentido, não é de perspectivar que as diferentes associações desportivas portuguesas e o Estado português se oponham à criação das selecções desportivas açorianas.

A capacidade competitiva das selecções portuguesas só residualmente será afectada. A resistência de alguns Estados à formação de selecções desportivas regionais está relacionada com a perda de potencial desportivo das respectivas selecções desportivas ou associada a questões de índole separatista. É o caso da Catalunha, uma vez que, por exemplo, o contributo dos atletas catalães para o potencial das selecções desportivas espanholas de Futebol, Andebol, Basquetebol ou Hóquei em Patins é, simplesmente, esmagador. Por outro lado, estão representados, no quadro parlamentar catalão, partidos que defendem abertamente a independência da Catalunha.

Ora, nem uma coisa nem outra sucede na Região Autónoma dos Açores. O nosso caso é muito semelhante ao da maioria esmagadora de territórios autónomos que possuem selecções desportivas integradas nas federações desportivas internacionais: são territórios insulares periféricos, dotados de autonomia política.

Para além dos argumentos meramente desportivos, esta iniciativa também valoriza os efeitos políticos da criação de selecções desportivas açorianas, nomeadamente no âmbito da projecção externa da Região e do reforço dos mecanismos afectivos e simbólicos dessa construção política que é a autonomia e a unidade política dos Açores. Criadas as selecções desportivas, os combinados açorianos passarão a competir numa das duas zonas mais competitivas do mundo – depende das modalidades – algo que dará aos Açores uma projecção nunca antes alcançada, uma vez que é conhecida a força mediática do desporto.

Por outro lado, a população açoriana não deixará de se sentir muito identificada com o desempenho das várias selecções açorianas. Os grandes jogos com as selecções estrangeiras serão, previsivelmente, acompanhados com muito interesse pela população açoriana.

A força simbólica do desporto dará assim um contributo inestimável ao reforço dos signos de identidade e à unidade do Povo Açoriano. Neste contexto, será possível ver desfilar uma delegação açoriana nos Jogos Olímpicos e ver competir, com o equipamento azul e branco, atletas açorianos nas principais competições desportivas internacionais.

Finalmente, a criação das selecções desportivas açorianas permitirá reforçar as ligações com a diáspora açoriana da América do Norte e do território continental do país. A perspectiva é, a exemplo do que fazem outras regiões e países que integram as federações desportivas internacionais, seleccionar atletas que, embora não residam nos Açores, integrem a diáspora açoriana.

Além disso, deverá, desde o início, prever-se a realização de alguns jogos das selecções açorianas junto das comunidades açorianas mais representativas. Esta abertura do quadro competitivo das selecções açorianas à diáspora permitirá aumentar a massa crítica de potenciais atletas seleccionáveis e reforçar, através do desporto, os vínculos afectivo e socioeconómicos entre a diáspora açoriana e a Região.

sábado, 2 de maio de 2009

No Olimpo


Carlos César, o político que é eleito deputado desde 1980, fez, segundo o Açoriano Oriental, a seguinte afirmação: “a mudança de candidatos europeus ficou a dever-se a uma lógica de renovação, que permite o progresso dos partidos.”

Como é que alguém que se eternizou nos cargos políticos consegue afirmar semelhante coisa? A resposta está no facto do Carlos César achar que habita numa espécie de Olimpo. Assim, a lógica que imola o comum dos mortais não se aplica ao ser mítico que o Carlos César julga ser.

A Coerência do BE


sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Helena de Matos e as Touradas

"A preocupação com o sofrimento dos touros parece não se aplicar a animais menos telegénicos. Por enquanto talvez ainda comam, mas certamente que vão deixar de comer, pois o novo Regulamento de Animais de Sintra estabelece que os animais não podem sofrer psicológica ou fisicamente naquele concelho.

É certo que o dito regulamento para já apenas se destina aos espectáculos - como os circos e as touradas -, mas quem já entrou num aviário certamente comprovou o sofrimento psicológico e físico experimentado pelos frangos e demais seres de pena que se encontram nos ditos estabelecimentos. O mesmo regulamento, se fosse para ser levado a sério, poderia conduzir à extinção as reservas de caça existentes no concelho, pois, como se supõe, a felicidade não é propriamente um estado de alma entre as espécies cinegéticas na época da caça.

Seja em Sintra ou em qualquer outro lugar. Viana do Castelo, Braga e Cascais fazem companhia a Sintra nesta nova bandeira do politicamente correcto dos direitos dos animais ou mais precisamente dos direitos de alguns animais. Tanto mais que este tipo de medidas dá boa imprensa.

Tão boa que ninguém se lembra de confrontar os partidos com o duplo critério que adoptam neste assunto. Ou será que o BE, que apresentou a proposta do fim das touradas em Sintra - proposta essa que só teve os votos contra do PCP e de alguns dos eleitos do PS -, também vai propor o mesmo tipo de regulamento em Salvaterra de Magos, única autarquia presidida pelo BE e onde apresentar um regulamento destes implicará com quase toda a certeza perder as eleições?

Estranhamente, a preocupação com o sofrimento dos animais que tanto incomoda os autoproclamados defensores dos touros vivos - convirá não esquecer que se acabarem as touradas ninguém investirá na criação de touros bravos, logo os touros bravos passarão a touros bravos desaparecidos - não se aplica a animais menos telegénicos.

A mim, por exemplo, impressiona-me muito mais a morte dos peixes do que as touradas, as matanças ou as chegas de bois. Tenho uma atávica dificuldade em entender como há quem se divirta em campeonatos de pesca e exasperam-me aquelas boas almas que passam horas imóveis, de cana de pesca na mão, à espera que um peixe morda o anzol para em seguida o deixarem morrer asfixiado. Mas não creio que fosse aceitável que um regulamento semelhante ao que foi aprovado em Sintra, Cascais ou Viana do Castelo impedisse a pesca desportiva ou outra qualquer em nome da condenação do sofrimento físico e psicológico dos peixes.

Acontece simplesmente que as touradas vivem hoje, em Portugal, um momento equivalente ao que aconteceu há algumas décadas com o fado. Consoante as épocas, o fado foi acusado de degenerar a raça ou de ser reaccionário e não havia escritor ou artista que não se sentisse na obrigação de declarar o seu nojo por aquilo que consideravam um arrazoado acanalhado de canções de faca, alguidar e ciúme. Até um acontecimento com características populares como a Grande Noite do Fado não merecia o menor interesse quer aos militantes da canção popular quer ao estudiosos que todos os dias lastimavam que o povo preferisse ouvir rádio em vez de cantar nas mondas e nas ceifas.

Como nesses tempos não existia a figura de ministro da Cultura, o mesmo não vivia o embaraço de surgir nas fotografias ao lado de fadistas e guitarras. Hoje o fado passou de canção cantada em Portugal para uma espécie de praga nacional: à excepção daqueles que, como é o meu caso, não cantam nada, parece existir um fadista dentro de cada português. Nos locais mais recônditos do país organizam-se noites de fado e fala-se do dito como se a Severa fosse lá da terra. E, claro, os políticos e as elites já não têm vergonha de aparecer ao lado dos fadistas. Ensina aliás a última campanha presidencial que ter uma mandatária que cante fado, como aconteceu a Cavaco Silva com Kátia Guerreiro, é uma vantagem muito acrescida sobre os outros candidatos que também escolheram cantores para mandatários mas especializados noutros estilos supostamente mais modernos mas certamente menos eficazes na hora de fazer esquecer aos auditórios que o candidato ainda não chegou - veja-se o caso de Manuel Alegre com Pacman.

Não sei se as touradas conseguirão fazer o percurso do fado e recuperar a popularidade. Logo nada me chocaria que as mesmas deixassem de existir, em Portugal, por falta de público. O que me parece um claro abuso de poder por parte dos autarcas é arrogarem-se o direito de decidir que determinados espectáculos não terão lugar nos respectivos concelhos.

Agora são as touradas e os circos. Amanhã podem ser as feiras, os concertos dum determinado tipo de música, uma peça de teatro ou outro espectáculo qualquer. É sempre fácil arranjar argumentos para legitimar uma proibição.

Presumo que nas próximas autárquicas a questão das touradas não suscite especial interesse. Mas neste país onde o poder central e local já achou um sinal de progresso proibir toques de sinos, procissões e piqueniques, neste mesmo país onde uma autarquia achou por bem adquirir um cinema que mantém mais ou menos fechado (falo do São Jorge, em Lisboa), unicamente para impedir que uma igreja pouco institucional ali se instalasse, conviria perceber o que pensam os diversos candidatos não sobre as touradas mas sim sobre o direito a decidirem acerca dos espectáculos e eventos que podemos frequentar."

(Da autoria da jornalista Helena de Matos)