quinta-feira, 19 de março de 2009

O Último Tango no Curdistão


Tenho a opinião que o eurodeputado Paulo Casaca serviu bem os Açores, embora neste segundo mandato se tenha instalado a sensação, na generalidade da opinião pública regional, que dispersou demasiado a sua actividade parlamentar. Pode ser uma apreciação injusta e não fundamentada em factos, mas essa é a percepção geral.

Seja como for, não partilho a visão de alguns saloios, segundo a qual um eurodeputado açoriano não pode falar de outra coisa senão de vacas. Os Açores são uma das regiões com maior potencial estratégico do mundo e os nossos eurodeputados não devem fazer de conta que estão numa mera assembleia de freguesia.

O Parlamento Europeu é uma das principais instituições dessa grande potência continental que é a União Europeia. Os deputados sentados nesse hemiciclo têm o dever de aproveitar o enorme conjunto de valências que essa posição lhes dá. Por aí, nada a assinalar.

Na substância da questão também não tenho grandes divergências. O regime dos ayatolas iranianos é uma ditadura abjecta, tal como o era o regime do Xá Mohamed Reza Pahlevi. No Médio Oriente – israelitas incluídos – não existem meninos de coro.

De qualquer forma, o regime iraniano e os seus sucedâneos do Hezbollah e do Hamas pertencem, certamente, ao clube da escória mais desprezível daquela região. O grupo com que o deputado Paulo Casaca apareceu conotado não será um modelo de virtudes, mas duvido que alcance o grau de selvajaria e fanatismo das já citadas organizações.

Sem novidades de maior, regressamos assim aos Açores. Previ que o deputado Paulo Casaca estaria de saída. Utilizei a imagem de que o deputado Paulo Casaca já tinha dançado “O Último Tango no Curdistão”. É uma expressão sem qualquer intenção pejorativa. O Paulo Casaca ficou, de facto, muito chamuscado com a notícia do “Expresso”. No entanto, não foi esse o factor decisivo para o seu afastamento.

O Carlos César aprecia a rotatividade dos cargos parlamentares – uma regra em que as únicas excepções são ele próprio e o resto da santíssima trindade governativa –, estou, por isso, convencido que já teria decidido substituí-lo. Pelo cansaço do cartaz eleitoral, pelo desgaste da imagem do eurodeputado e para distribuir e voltar a dar, um velho vício de todos os jogadores.

Quase que adivinho o modus operandi da conversa do Carlos César com o candidato. Disse-lhe que o partido a nível nacional vetava o seu nome. Disse-lhe que o maior e mais mediático combate eleitoral deste ciclo eleitoral é Ponta Delgada. Disse-lhe isto, mas não lhe disse que não tem qualquer hipótese e que o está a empurrar para um sacrifício inútil.

Ainda o combate eleitoral não começou e já o Paulo Casaca arrasa a sua própria candidatura. Sei que as declarações proferidas se destinam ao Tribunal. O queixoso quer demonstrar que a notícia do Expresso obliterou a sua carreira política. Pode ser que isso seja um axioma verdadeiro. Se não era verdade … passou a ser.

O drama deste episódio lamentável é que o Paulo Casaca não merece que isto lhe aconteça. Quem merece o infortúnio da derrota foi quem o empurrou para esta situação. Esse não é outro que o próprio Carlos César.

PS – Escrevi este artigo antes do deputado Paulo Casaca falar do seu programa eleitoral. Como eu previa, o candidato continua a dar autênticas pérolas aos seus adversários (falar do ensino da língua árabe em Ponta Delgada é um erro clamoroso).