quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Entrevista da Deolinda Estêvão

Qual a mais-valia que a eleição de um deputado do PPM/Açores pelo círculo eleitoral da Terceira pode proporcionar à ilha?

O PPM-A é uma força política de direita independente, imune a qualquer pressão política ou conjunto de interesses. Ao contrário, o CDS-PP, que ocupa a mesma área ideológica que nós, encontra-se hoje vergonhosamente tutelado pelo PS, algo que seria impensável no tempo do Dr. Alvarino Pinheiro.

Dentro desta área ideológica somos os únicos que podemos aspirar ser uma voz verdadeiramente independente para a Terceira. O PSD e o PS são, por sua vez, estruturas políticas com uma ambição marcadamente regional. Esse facto impede-os de se blindarem na defesa dos interesses da ilha, uma vez que não querem por em causa ou enfrentar o descontentamento de outros círculos eleitorais com um peso ainda mais decisivo na definição do poder regional.

Veja-se a actuação do PSD no âmbito do esvaziamento político e administrativo de que a ilha foi alvo nos últimos anos. Só para terceirense ver, os responsáveis locais do PSD esgrimiram este descontentamento, no entanto o líder regional do PSD nunca se referiu a esta questão porque lhe é impossível manter, em simultâneo, o papel de político preocupado com a desvalorização da Terceira e de líder regional que possa ousar criticar a progressiva centralização do poder em São Miguel.


Um deputado do PPM pela Terceira não estaria nem tutelado pelo PS, nem condicionado pelos interesses mais abrangentes dos dois grandes partidos regionais. Nesse sentido, representaria uma voz genuína na defesa dos interesses da ilha como o conseguiu ser, de certa forma, o CDS-PP durante a liderança do Dr. Alvarino Pinheiro.



Não habitando na ilha, julga que poderá ser uma defensora efectiva dos interesses da Terceira?

Sim! Conheço muito bem a Terceira, uma ilha cuja população adoro pela sua simpatia e pelo seu saber viver.

Seja como for, não tenho dúvidas que posso vir a ser uma boa defensora da Terceira. Servir os interesses da Terceira é defender o interesse dos Açores, na perspectiva do equilíbrio institucional, demográfico e económico que deve prevalecer na Região. Sem uma Terceira forte e dinâmica não existe qualquer contraponto possível ao actual processo centralizador que se vive na Região.

Ora os deputados do PSD e do PS não podem desempenhar esse papel com sucesso, uma vez que as suas iniciativas em defesa da ilha chocam com os poderosos interesses regionais de ambos os partidos. A Terceira é, assim, sempre preterida no xadrez político regional. Só assim se entende este processo de esvaziamento institucional e económico que a ilha tem conhecido nos últimos anos, enquanto ambas as lideranças regionais assobiam para o lado e deixam, sem qualquer efeito prático, os políticos locais ensaiar uma indignação que soa a hipocrisia.

Qual o motivo de não ter sido possível apresentar uma cabeça-de-lista morador na ilha?

Faço parte do Directório Regional do Partido, do Conselho Nacional do Partido e desempenho, desde 2005, tarefas autárquicas. Neste âmbito participei na definição da estratégia do partido para estas regionais.

A nossa estratégia assentou na utilização dos mais qualificados dirigentes regionais do PPM, sem recorrer a independentes. Privilegiámos a coesão da acção política e da concepção programática em detrimento de listas mais difusas, assentes em critérios de simples territorialidade.
Nesse sentido, o partido convidou-me, juntamente com o Paulo Estêvão e o Gonçalo da Câmara Pereira, a protagonizar uma das mais importantes candidaturas do partido nestas regionais.

Estou certa que as pessoas privilegiarão o mérito e a capacidade de trabalho em detrimento de ultrapassados critérios de bairro. Poucos são os que conseguem ser profetas na sua terra e, olhando para o desempenho da maioria dos deputados eleitos na Terceira, eu até fico com dúvidas se eles são realmente deste planeta, tal o grau de alheamento que demonstraram em relação aos problemas da sociedade terceirense.

Quais as principais dificuldades que identifica em termos de desenvolvimento da ilha Terceira?

A Terceira está a passar pela maior crise de identidade e de afirmação, política e económica, da sua história. Nunca, como agora, o seu papel político foi tão insignificante no conjunto açoriano.

Nada se decide verdadeiramente na Terceira e até o seu papel institucional recuou para níveis de irrelevância nunca vistos (o Representante da República é hoje uma figura meramente protocolar e o Vice-Presidente do Governo Regional alimenta ambições regionais que o fazem esquecer a sua terra).

Na área económica o investimento está mumificado e os grupos económicos terceirenses perderam escala e massa crítica. Deixaram de ter capacidade de projecção no exterior, sendo que, mesmo na ilha, se faz notar uma acentuada decadência dos mesmos.

A tudo isto temos de juntar a evidente degradação da qualidade da classe política local que não tem qualidade política ou técnica. Nesse sentido, veja-se o recente caso da Câmara de Angra do Heroísmo, cujas últimas peripécias e deserções – nomeadamente a forma como foi descartada pelo anterior presidente - a remeteram para um inaceitável ridículo tendo em conta a sua gloriosa história.

Para tornar tudo ainda mais deprimente, só nos faltava que o desleixo de sucessivas administrações municipais se reflectisse no abastecimento de água, uma regressão civilizacional inconcebível. A minha solução é que se enterrem politicamente os coveiros da Terceira que não são outros que a quase totalidade da classe política terceirense dos últimos dez anos,

Considera que a Terceira tem sido “maltratada” pelo poder político, sobretudo comparando com o nível de investimento realizado em São Miguel?

Penso que sobre isso não existem nenhum tipo de dúvidas. O poder institucional, político e económico terceirense foi, em grande parte, desmantelado nos últimos anos.

Um dia a história julgará os políticos que não souberam ou não quiseram resistir à imensa força centralizadora do cesarismo açoriano. A maior parte destes pequenos políticos só se preocupou em salvar a sua própria posição.

O povo também não está totalmente isento desta situação. Cederam aos encantos do espectáculo de pão e circo com que o cesarismo socialista os aliciou. O resultado está à vista. Em breve o regime não terá pão para distribuir, sendo certo que terá sempre circo.

Um bom resultado para o PPM/A, nas próximas eleições regionais, passa obrigatoriamente pela eleição de deputado(s)?

Sim! Nesta fase do projecto político do PPM-Açores, a ambição é eleger pelo menos um deputado. Se esse objectivo não for alcançado, o partido considerará esse facto uma grave derrota politica. Na Terceira esperamos ter o apoio do imenso voto monárquico desta ilha. Merecemos esses votos! Lutámos pela liberdade, como nenhum outro partido. Arriscamos o nosso bem-estar, e o das nossas famílias, em defesa da democracia açoriana. Conceptualizámos o melhor programa eleitoral para os Açores. Sim! Merecemos ter uma boa votação.

O novo círculo regional da compensação poderá na realidade beneficiar os partidos mais pequenos?

Beneficia, em primeiro lugar, a força política dominante. O novo sistema torna matematicamente impossível o partido mais votado não ter mais deputados (algo que sucedeu em 2000, precisamente devido à não eleição do candidato socialista no Corvo).

Por outro lado, as ilhas de menor dimensão perderão, assim, grande parte da sua importância política. O sistema permite, aos grandes partidos, recuperar, no círculo de compensação e de forma automática, qualquer mandato perdido nas ilhas mais pequenas.

De forma marginal, o novo sistema eleitoral poderá beneficiar uma ou outra força política de menor dimensão. Esse facto constitui o efeito colateral - certamente não desejado pelo PS – duma lei feita à medida e visando a perpetuação no poder dos socialistas.
(A União)