segunda-feira, 6 de abril de 2015

Artigo de Opinião: "A feudalização do poder socialista nos Açores"

Os Açores estão hoje a viver uma crise económica e uma degradação da situação social que não tem precedentes na História da nossa autonomia. Não se trata aqui de escrever um artigo de crítica política gratuita. Estou a cumprir um imperativo de consciência. A dar voz a todos os que não têm voz. A dar cara por todos aqueles que a temem dar. A falar por todos os que já só têm energia para esboçar murmúrios de lamento e de discordância.
Estou chocado com o número de sem-abrigos e de pedintes que se multiplicam nas nossas cidades. Estou chocado com o número de pessoas que já só vivem da caridade alheia e de uma ocasional sopa de caridade. Estou chocado com os números gigantescos e brutais do desemprego real. Estou chocado com as perspetivas negras que incidem sobre a agricultura açoriana sem que o Governo Regional consiga reagir. Estou chocado com o desmantelamento e a destruição progressiva do sector das pescas. Estou chocado com a paralisia total do sector da construção civil.
Estou chocado com o desempenho de um Secretário da Saúde que soma já dois anos de esforços desesperados para desmantelar o serviço regional de saúde. Estou chocado com o desempenho governativo que colocou o sistema educativo regional e as nossas escolas no último lugar de todas as tabelas que medem o aproveitamento escolar dos nossos alunos.
Importa perguntar, enquanto tudo cai em nosso redor, onde está o Governo dos Açores? Apetece-me colocar, aqui e agora, um cartaz ao melhor estilo do faroeste a dizer: procura-se o Governo dos Açores, que se encontra em parte incerta. Posso dar algumas pistas. A última vez que se ouviu falar no governo socialista foi a propósito de um assunto inexistente e do envio de uma carta do presidente do Governo Regional para o líder da caótica bancada governamental no Parlamento.
Temo que, a este nível de regressão tecnológica, a próxima comunicação governamental nos chegue sob a forma de um papiro lido à luz das velas. Mas isto ainda pode piorar. Ainda esta semana vi o inefável líder parlamentar socialista, afundado em dificuldades próprias, esboçar uma espécie de sinais de fumo para Lisboa. É que o líder parlamentar do PS é uma espécie de cabo-de-guerra feudal. Manda avançar os peões para o massacre inicial e só depois, muito depois da batalha terminar, é que é possível, por entre a neblina da derrota, ver a silhueta intacta de um guerreiro que não compareceu no combate.
O que eu aqui acabei de descrever é apenas uma caricatura da descoordenação governamental e do poder partidário que lhe está associado. Num momento grave, em que se enfrentam dificuldades inauditas, os Açores necessitam de um Governo coordenado, ambicioso, competente e inovador. O que temos é muito diferente.
O governo e o poder socialista entrou num processo de feudalização. O atual Presidente do Governo Regional - sucessor do Carlos Magno açoriano que fugiu para Lisboa um pouco antes da borrasca - detém apenas um poder simbólico. No fundo, o que temos em vigor no poder açoriano é um triunvirato formado pelo Dr. Vasco Cordeiro, o Sr. Carlos César e o Dr. Sérgio Ávila. Não necessariamente por esta ordem.
Abaixo deles reina o caos, no âmbito do qual emergem – cada vez mais atrevidos e descarados – pequenos potentados locais. Nestas circunstâncias, cada um dos senhores feudais do poder socialista faz mais ou menos o que lhe passa pela cabeça e corre, rumo ao futuro, em pista própria.
Não existe hoje um governo unificado nos Açores. A ação governativa é apenas reativa e está muito longe de ter uma ação concertada e planeada no tempo. O Governo Regional assemelha-se a um navio decrépito, que decidiu lançar âncora no meio de uma tempestade. Neste cenário, os tripulantes têm como única função lançar baldes de água pela borda fora enquanto o navio se afunda cada vez mais. 
Nós, todos nós, somos os passageiros deste barco desgovernado, com a quilha já à mostra. Temos de salvar os Açores deste governo e perder qualquer ilusão de que este governo nos pode salvar. Libertar os Açores da situação calamitosa em que nos encontramos é uma tarefa grandiosa. É uma tarefa que exige o fim do poder político que se eternizou no governo dos Açores.
Pedir ao atual Governo que se demita talvez seja pedir demais a um partido que se enquistou e parasita atualmente o corpo da sociedade açoriana. Mas é um serviço patriótico que é exigível pedir a alguém que demonstrou, de forma insofismável, que não tem capacidade para resolver os graves problemas com que se confronta a sociedade açoriana.
(publicado no jornal Açoriano Oriental de 14/04/2015)