A história está cheia de exemplos de governos, inicialmente bem-intencionados, que se transformaram, com o passar do tempo, em ditaduras ou regimes autoritários.
Quando, como e porquê revolucionários libertadores, como o Fidel Castro ou o Che Guevara, ou pais da pátria, como Robert Mugabe ou Agostinho Neto, se transformaram, por sua vez, em ditadores e opressores dos seus povos?
A resposta a estas questões é essencial para compreender o processo de criação e evolução dos regimes não democráticos, a partir de uma base inicial de apoio e legitimidade popular.
Vejamos o caso de Carlos César e dos Açores. Em 1996, ele representava o desejo de mudança para uma parte importante dos açorianos, asfixiados pelo longo monopólio, por parte do PSD-A (20 anos), do poder regional.
O então jovem líder do PS-A centrou a sua campanha na defesa do pluralismo político, da liberdade e da democracia. Criticava a arrogância política do PSD e a sua longa permanência no poder.
Apresentava-se como o campeão da alternância democrática e, no auge da campanha de 96, chegou mesmo a prometer não permanecer no poder mais de dois mandatos. Era o contraponto perfeito aos líderes políticos do PSD-A, que ele acusava de práticas ditatoriais e de apego ao poder.
O símbolo da mudança, do desapego ao poder e às suas mordomias, ganhou as eleições em 1996, destronando assim o PSD-A. O resto é história. Após uma breve abertura política, o PS-A iniciou um processo de monopolização do poder que se tem vindo, cada vez mais, a acentuar.
Considero que, actualmente, o projecto e a prática política do PS-A são de cariz totalitário.
Em primeiro lugar, temos o culto ao chefe e o reconhecimento universal do carácter incontestável da sua autoridade. O Carlos César dos 99,6 % não sofre qualquer contestação interna, quer no partido, quer no Governo. Não se ouve uma só voz dentro do PS-Açores que se atreva a esboçar a menor crítica, mesmo que sectorial ou residual. Nas ilhas mais pequenas – as da coesão – os militantes do PS-Açores não se atreveram a exteriorizar a menor discordância, apesar do evidente fracasso da política de coesão. Resultado, chapa 100% em todas.
O registo geral das intervenções públicas dos responsáveis do regime sobre Carlos César é o da veneração e da glorificação. O tom e as metáforas utilizadas lembram os piores momentos de regimes como o de Ceausescu ou o de Enver Hoxha.
Nada, absolutamente nada, distingue – para além da ausência de violência física – o culto dedicado ao líder pelo PS/Açores, do praticado historicamente por outras organizações partidárias totalitárias, como a União Nacional ou a Falange.
Os próprios responsáveis governamentais do PS-Açores não possuem verdadeira vontade própria. São, cada vez mais, habituais as declarações em que estes confessam que estão aplicando uma espécie de leis mentais do grande líder: “era o sonho do Presidente”, por “manifesta vontade do Presidente”, etc.
Em segundo lugar, temos a construção ideológica do regime. O PS-Açores, pela boca do seu líder, não aspira a representar uma só corrente ideológica, o socialismo democrático, como era pressuposto. Pelo contrário, Carlos César possui uma visão corporativa do regime. O PS-Açores “representa todos os socialistas e os não socialistas”. A única diferença que se pressupõe a aceitar é a ténue diferença entre “os mais e os menos socialistas”.
O discurso de Carlos César contempla todas as variáveis ideológicas. Para ele, os que criticam os lucros excessivos da banca e dos seus administradores são “fariseus”. Para os pobres e remediados promete os “bolsos cheios” para a prática, sempre filantrópica, da pesca eleitoral à linha. Isto é socialismo?
A alternativa ao PS-Açores “não pode, nem deve, ser protagonizada pela oposição”. Para Carlos César, “a alternativa ao PS-Açores é o próprio PS-Açores”. Qual é a diferença entre este discurso e o discurso corporativo e totalitário de Oliveira Salazar? Nenhuma, absolutamente nenhuma.
Em terceiro lugar, temos o crescente controlo dos meios de comunicação social por parte do regime. Os meios privados estão, actualmente, asfixiados economicamente e sobrevivem com crescentes dificuldades. A independência editorial é um luxo cada vez mais caro. Apesar de tudo, honra lhe seja feita, resistem alguns moicanos.
A RTP-Açores está, actualmente, completamente controlada pelo regime. A censura aí é bem real e praticada ao melhor estilo do lápis azul. Posso testemunhar, na primeira pessoa, isso mesmo. Foram-me dadas cinco oportunidades de criticar as políticas governamentais. Nessas cinco vezes, tenho consciência disso, fiz mossa no regime.
Os esbirros do regime mandaram-me calar e não terei, provavelmente, uma nova oportunidade. Não faz mal! Sou funcionário público, avaliado pelo regime, à mercê da denúncia anónima, mas nunca me calarei.
A luta pelo pluralismo democrático é uma causa demasiado inspiradora para pensar em desistir. Luto pela igualdade de oportunidades. Luto pelo direito a pensar de forma diferente. Luto para que, nesta sociedade, todos possam ter direito a condições de vida mais dignas. Luto contra a esmola, porque não quero um país de pedintes. Luto por essa palavra mágica pela qual muitos, tantas vezes … demasiadas vezes, ousaram morrer para que a pudéssemos pronunciar: LIBERDADEEEEEEEE !!!!!
Quando, como e porquê revolucionários libertadores, como o Fidel Castro ou o Che Guevara, ou pais da pátria, como Robert Mugabe ou Agostinho Neto, se transformaram, por sua vez, em ditadores e opressores dos seus povos?
A resposta a estas questões é essencial para compreender o processo de criação e evolução dos regimes não democráticos, a partir de uma base inicial de apoio e legitimidade popular.
Vejamos o caso de Carlos César e dos Açores. Em 1996, ele representava o desejo de mudança para uma parte importante dos açorianos, asfixiados pelo longo monopólio, por parte do PSD-A (20 anos), do poder regional.
O então jovem líder do PS-A centrou a sua campanha na defesa do pluralismo político, da liberdade e da democracia. Criticava a arrogância política do PSD e a sua longa permanência no poder.
Apresentava-se como o campeão da alternância democrática e, no auge da campanha de 96, chegou mesmo a prometer não permanecer no poder mais de dois mandatos. Era o contraponto perfeito aos líderes políticos do PSD-A, que ele acusava de práticas ditatoriais e de apego ao poder.
O símbolo da mudança, do desapego ao poder e às suas mordomias, ganhou as eleições em 1996, destronando assim o PSD-A. O resto é história. Após uma breve abertura política, o PS-A iniciou um processo de monopolização do poder que se tem vindo, cada vez mais, a acentuar.
Considero que, actualmente, o projecto e a prática política do PS-A são de cariz totalitário.
Em primeiro lugar, temos o culto ao chefe e o reconhecimento universal do carácter incontestável da sua autoridade. O Carlos César dos 99,6 % não sofre qualquer contestação interna, quer no partido, quer no Governo. Não se ouve uma só voz dentro do PS-Açores que se atreva a esboçar a menor crítica, mesmo que sectorial ou residual. Nas ilhas mais pequenas – as da coesão – os militantes do PS-Açores não se atreveram a exteriorizar a menor discordância, apesar do evidente fracasso da política de coesão. Resultado, chapa 100% em todas.
O registo geral das intervenções públicas dos responsáveis do regime sobre Carlos César é o da veneração e da glorificação. O tom e as metáforas utilizadas lembram os piores momentos de regimes como o de Ceausescu ou o de Enver Hoxha.
Nada, absolutamente nada, distingue – para além da ausência de violência física – o culto dedicado ao líder pelo PS/Açores, do praticado historicamente por outras organizações partidárias totalitárias, como a União Nacional ou a Falange.
Os próprios responsáveis governamentais do PS-Açores não possuem verdadeira vontade própria. São, cada vez mais, habituais as declarações em que estes confessam que estão aplicando uma espécie de leis mentais do grande líder: “era o sonho do Presidente”, por “manifesta vontade do Presidente”, etc.
Em segundo lugar, temos a construção ideológica do regime. O PS-Açores, pela boca do seu líder, não aspira a representar uma só corrente ideológica, o socialismo democrático, como era pressuposto. Pelo contrário, Carlos César possui uma visão corporativa do regime. O PS-Açores “representa todos os socialistas e os não socialistas”. A única diferença que se pressupõe a aceitar é a ténue diferença entre “os mais e os menos socialistas”.
O discurso de Carlos César contempla todas as variáveis ideológicas. Para ele, os que criticam os lucros excessivos da banca e dos seus administradores são “fariseus”. Para os pobres e remediados promete os “bolsos cheios” para a prática, sempre filantrópica, da pesca eleitoral à linha. Isto é socialismo?
A alternativa ao PS-Açores “não pode, nem deve, ser protagonizada pela oposição”. Para Carlos César, “a alternativa ao PS-Açores é o próprio PS-Açores”. Qual é a diferença entre este discurso e o discurso corporativo e totalitário de Oliveira Salazar? Nenhuma, absolutamente nenhuma.
Em terceiro lugar, temos o crescente controlo dos meios de comunicação social por parte do regime. Os meios privados estão, actualmente, asfixiados economicamente e sobrevivem com crescentes dificuldades. A independência editorial é um luxo cada vez mais caro. Apesar de tudo, honra lhe seja feita, resistem alguns moicanos.
A RTP-Açores está, actualmente, completamente controlada pelo regime. A censura aí é bem real e praticada ao melhor estilo do lápis azul. Posso testemunhar, na primeira pessoa, isso mesmo. Foram-me dadas cinco oportunidades de criticar as políticas governamentais. Nessas cinco vezes, tenho consciência disso, fiz mossa no regime.
Os esbirros do regime mandaram-me calar e não terei, provavelmente, uma nova oportunidade. Não faz mal! Sou funcionário público, avaliado pelo regime, à mercê da denúncia anónima, mas nunca me calarei.
A luta pelo pluralismo democrático é uma causa demasiado inspiradora para pensar em desistir. Luto pela igualdade de oportunidades. Luto pelo direito a pensar de forma diferente. Luto para que, nesta sociedade, todos possam ter direito a condições de vida mais dignas. Luto contra a esmola, porque não quero um país de pedintes. Luto por essa palavra mágica pela qual muitos, tantas vezes … demasiadas vezes, ousaram morrer para que a pudéssemos pronunciar: LIBERDADEEEEEEEE !!!!!