segunda-feira, 28 de abril de 2008

Resposta ao Activismo de Sofá

O blog “Activismo de Sofá” interpelou-me no sentido de lhe responder a propósito de um comentário que publiquei num post sobre a eventual vantagem de tornar obrigatória, no âmbito do ensino secundário, a disciplina de Ciência Política. O autor limitava-se a constatar o alheamento da juventude em relação à política e, sem outro esforço intelectual pelo meio, sugeria o que atrás referi.

O autor do “Activismo de Sofá” é um auto-assumido preguiçoso: “É sim um discurso assumidamente preguiçoso e pouco corajoso de quem tem algo a dizer, mas que encontra no mundo virtual, directamente do conforto do seu lar (mais precisamente do seu sofá) o modo perfeito de dizer de sua justiça. No fundo, uma forma de participação cómoda, sem grandes constrangimentos, sem dar a cara.”

Assim, como a preguiça não deve ser um direito exclusivo de alguns, assumo que preguicei na resposta que lhe dei, mas, reconhecerá, que os argumentos aduzidos por si não eram excessivamente estimulantes e que, por isso, foi sua a primeira trincadela na maçã deste pecado. Mea culpa, no entanto.

Quanto à questão de fundo, considero que um dos graves problemas dos nossos currículos escolares reside na sua extrema atomização. O nosso sistema, justamente devido a algum corporativismo da classe docente (de que faço parte), está espartilhado num sem número de pequenas trincheiras disciplinares.

Não é possível, pura e simplesmente, dar coerência e contexto global a tudo isto. Poderá dizer-me que é para isso que existem os projectos de articulação ao nível das turmas, dos departamentos e das escolas. A minha convicção – e experiência de quase 20 anos – é que, tudo isso, não funciona.

Além da minha experiência pessoal e da análise global que faço do sistema, dever-se-á juntar a observação dos sistemas de ensino de sucesso. Estes são, no que diz respeito à organização curricular, muito menos balcanizados que o nosso.

Por isso, quando vejo alguém defender a criação de uma disciplina escolar, por cada problema social detectado (a educação sexual, a educação política, a violência de género, a educação rodoviária, etc.), admito que fico com vontade de responder não, não, não e não.

Neste caso específico, vou mesmo mais longe na discordância. Como se sabe, grande parte dos conteúdos programáticos desta disciplina são, actualmente, leccionados nas disciplinas de história e educação cívica. Não será melhor continuar a abordar estes conteúdos no contexto da evolução histórica do país e do mundo?

Por outro lado, acho perigoso que exista uma “disciplina estatal de explicação da hermenêutica política”. Estou farto de ler barbaridades programáticas oficiais sobre a monarquia e a definição conceptual das ideologias.

Acresce a isto, que não antevejo nada de bom para o futuro, tendo em conta a prometida descentralização da administração escolar para as autarquias e a obrigatoriedade do ensino secundário. Já estou a ver as orientações pedagógicas, a respeito da abordagem dos programas, em algumas escolas e municípios deste país. Desculpe, mas o ensino da política, no salazarismo e no PREC, a mim já me chegou e sobrou.

O problema do desinteresse dos jovens e de muitos adultos pela política resolve-se, justamente, com uma atitude diferente - de todos - em relação à vida cívica.

O seu exemplo de “Activismo de Sofá” não será o melhor exemplo comunitário. Embora seja livre, como é óbvio, de participar na vida cívica da forma que lhe apetecer. Possui, não lhe faço nenhum favor, uma boa capacidade de análise política, mas abstém-se de dar o seu contributo na “vida real”.

Passa a vida a desancar nos desgraçados dos políticos que lhe aparecem na frente. Mas que alternativa oferece o senhor à sociedade? Falta-lhe algum conhecimento ideológico?

O que lhe falta a si é o mesmo que falta a muitos dos nossos jovens. Garanto-lhe que não resolve isso com aulas de Ciência Política.

Saudações